Ilustrações: Paulo Nilson
Kunley era uma espécie de "poeta on the road". Vagava de aldeia em aldeia, muitas vezes nu, cantando seus poemas improvisados. Na sua época, poucos sabiam que era um iluminado, já que suas práticas tântricas eram absolutamente secretas. Consideravam-no um louco. Segundo o lama butanês Djigme Tenzin, do Centro Budista Tibetano Kagyü Pende Gyamtso, em Brasília, "Kunley foi um grande iogue, no sentido verdadeiro da palavra: vivia despojado de tudo e era extremamente pobre". O lama ainda chama a atenção para eventuais confusões que, principalmente nós, ocidentais, venhamos a fazer com relação às atividades sexuais de Kunley. "Sim, sua vida teve muito sexo, mas sempre no sentido de liberar as mulheres com quem fazia amor".
Dentre as especialidades de Kunley estava a "Louca Sabedoria". Trata-se de um estágio de domínio mental em que se passa a enxergar os fenômenos, as pessoas e as situações de uma maneira absolutamente externa. Kunley via tudo de fora. Até hoje ele é visto como um caso à parte na cultura budista. Em outras palavras, falar sobre Drukpa Kunley inspira uma série de cuidados. Suas histórias são recheadas de lances inusitados, cômicos e mágicos. Só dava ensinamentos em troca de cerveja, tinha uma profunda antipatia pelo clero estabelecido e freqüentemente zombava de religiosos e monges.
As três histórias a seguir foram extraídas do livro Le Fou Divin: Drukpa Kunley, yogi tantrique tibetain du XVI siècle, de Albin Michel. São relatos verdadeiros que foram transmitidos oralmente por dezenas de gerações. É a sua biografia oficial.
Gayakmo: a virgem casada
Kunley vaga pelos arredores da cidade de Tsari quando avista uma pequena cabana na beira do caminho. Lá moram um mudo idiota chamado Horgyal e sua esposa, Gayakmo, que apresenta todos os sinais de uma dakini (manifestação feminina de Buda). Assim que a vê, Kunley fica a fim de conduzi-la ao caminho da budeidade.
— Não sei o que fazer — diz-lhe Gayakmo —, mas minha vagina é certamente muito forte, até porque ela nunca foi usada.
— Mas como faz esse idiota?
— Para ele não há diferença entre dentro e fora.
— Mas eu conheço a diferença — diz Kunley.
Então ele a possui rapidamente. Ela resolve segui-lo a fim de receber as instruções para atingir a iluminação. Diz ao marido que vai até a montanha procurar por um pouco de carne e não volta mais. Kunley ensina-lhe práticas de meditação e a conduz até a montanha. No sétimo dia, Gayakmo atinge a budeidade e transforma-se num corpo de luz.
Em Kongpo, o país dos abismos, Kunley sentou-se diante do castelo de Cabeça-de-Búfalo, onde morava Sumchock, e começou a cantar: "Se nossos corpos se unirem no amor/Sumchock vai se iluminar no puro espírito da budeidade".
Sumchock se debruça na janela e, assim que o vê, seu coração se enche de devoção. Então ela canta para ele: "Sei que em seu corpo lívido se esconde o coração de um Buda!" Cabeça-de-Búfalo percebe que Kunley e Sumchock dialogam por meio dos cantos. "O que é esse canto que estou escutando?", ele lhe pergunta. "Um mendicante parado na porta disse-me que caçadores mataram animais hoje na montanha. E, como a partilha ainda não foi feita, você poderá ganhar uma centena de peças caso vá para lá."
Essas palavras caem no ouvido do chefe como uma chuva refrescante num deserto em chamas. E ele parte imediatamente em direção à montanha. Kunley entra no castelo. Segurando-a pelas mãos, deita-a sobre a cama do chefe. Colocando seu órgão contra a vagina entre suas coxas, onde a carne é mais doce que um creme, e certificando-se que estão completamente um dentro do outro, ele consuma a união. Penetrando-a, lhe dá um prazer que ela jamais havia experimentado.
Sumchock pede que ele a leve embora do castelo. Ele a encerra dentro de uma caverna e lhe dá instruções. Na aurora do quarto dia ela é libertada de toda frustração e atinge o estado de Buda, transformando-se num corpo de luz.
— Oh, Grande Lama — diz ela —, da primeira vez que te vi não percebi que eras um Buda. Perdoa-me e possui meu corpo agora.
— Levante sua saia e abra as pernas. Oh, oh! — exclama Kunley, olhando entre as coxas e pondo o seu pau para fora.
— Parece que nós não fomos feitos um para o outro. Você precisa de um pênis triangular e eu, de um buraco redondo. É evidente que não temos encaixe.
Loleg Buti fica triste e decepcionada e pede que ele lhe dê um novo nome e instruções para atingir a budeidade. Kunley batiza-a de "Libertadora do Ensinamento Divino" e envia-a para uma montanha, onde ela fica meditando durante três anos. Finalmente atinge a budeidade e transforma-se num corpo de luz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário