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24.10.12

Sobre o Certo & O Errado

SOBRE O CERTO E O ERRADO - Mortinta Knobina, Sacerdotisa da Cabala Erísiana dos Treze Portais de Oz

Daleth se aproximou com uma cara muito esquisita quando Aleph indagou qual o problema que lhe afligia. Rapidamente Daleth começou a vomitar um emaranhado de problemas. Aleph, por educação ou atenção, ficou ouvindo, as vezes tentando esconder o riso e torcendo para Daleth não perceber. 


“Compreende? Parece que tudo que eu faço está errado - disse Daleth

 com aquela expressão triste.
“E qual é o problema em estar errado? – perguntou Aleph com um sorriso malicioso nascendo no rosto.
“Como assim, Aleph? Errar implica em Erro. E Errar é algo que devemos evitar para que possamos levar uma vida em harmonia.
“Eu conheço muitas pessoas que fizeram coisas Certas pelos motivos Errados. Ou melhor, fazendo coisas Erradas, no fundo, acabam tornando as coisas muito mais Certas de como elas estão no momento.

“O que vc fumou Aleph? Está falando coisas sem sentido.”
“Vem comigo – disse Aleph com um sorriso misterioso mesclado com um tico-tico de fubá”
Aleph e Daleth pegaram um ônibus qualquer e desceram em um lugar que não nos diz respeito no dado momento. Aleph seguiu caminhando junto com Daleth, ambos quietos, até encontrarem uma avenida muito movimentada. Aleph se aproximou da primeira pessoa e comentou:
“Nossa, como o tempo está horrível hoje, não é?” – O sol brilhava forte em um lindo céu sem nuvens. O transeunte apenas ficou olhando para Aleph com uma cara de “o.O” o que esse cara usou?

Aleph continuou sua aventura e de repente ouve alguém gritando: EU VENHO DO PLANETA ÉRIS – EU NÃO SOU DAQUI – era o mendigo local, famoso Astronauta do Lixão que fazia sua palestra diária na praça municipal regrado de muita pinga e vinhos sacrossantos. Aleph se aproximou e trouxe Daleth a força, apesar de sua clara relutância. Daleth não via os mendigos com bons olhos.

EU VENHO DE LÁ TAMBÉM – disse Aleph - MARIPOSA, ALFAIATE, AZUL CERÚLIO E LAMPIÃO

O Mendigo por um segundo o encarou como se não soubesse do que Aleph estava falando e logo em seguida caiu em uma gargalhada. Aceita uma pinga? – Aleph bebericou imediatamente e passou a garrafa para Daleth, que nem sequer a tocou, e o olhou com olhar de nojo.
-Aleph... eu sei que você sempre foi meio pirado... mas agora você está saindo dos limites...
-Daleth. Aprenda a Estar Errado
-Como assim Aleph, para beber pinga com os mendigos?
-Não, seu bobo. Pra aprender que estar errado também está certo.

Daleth não compreendia o que Aleph estava querendo dizer, então Aleph começou a fazer a coisa mais louca que Daleth já havia visto:
Aleph olhava para o céu sem nuvens e exclamava que possivelmente viria chuva. Começou a fingir que estava tremendo reclamando que estava muito frio para os padrões de seu planeta natal, Mercúrio. Começou a plantar bananeira insistindo que o Céu era para baixo e a Terra era para cima. Afirmou que a Carminha era a maior santa das novelas da globo. Afirmou que a TV Cultura era um canal muito pobre em cultura. Comentou sobre como era exemplar a atitude dos políticos brasileiros. Anunciou que a Presidenta Dilma não é humana, mas sim um Beta Gray de Zeta Reticuli disfarçado de humano.

Daleth não estava entendendo coisa nenhuma e o mendigo estava cagando de tanto rir. Até que Aleph parou e olhou para Daleth com um sorriso e disse: Não estou certo?
Daleth respondeu: Não. Está errado. – Não entendi o que quer dizer.
-Que você não precisa estar certo o tempo todo. E que estar errado está tudo bem. Na verdade, você deveria passar o dia inteiro comigo fazendo tudo errado, para amanha quando não fizer algo certo, saber que está tudo certo.
-E pra que vou querer fazer tudo errado hoje se posso tentar fazer tudo certo?
-Pra amanha você não vir reclamar que fez algo errado quando tentava fazer tudo certo.

Os dois passaram o dia inteiro fazendo tudo pelo contrário e Daleth nunca mais ficou chateado quando estava errado sobre alguma coisa.

E AO OUVIR TODA ESTA CONVERSA, ALGUÉM FOI ILUMINADO

19.10.12

Consciência Ùltima

Reinaldo Ribeiro
O termo "consciência convencional" diz respeito a exatamente o quê? Há uma consciência última em oposição a ela? O que as diferenciaria? Alan Wallace quando esteve no Brasil falou em três: consciência grosseira, consciência sutil e consciência última.A consciência grosseira é a nossa identificação com os sentidos físicos e os pensamentos e emoções. É ela que produz, na sua confusão, a noção de um "eu". Ela possui uma continuidade extremamente restrita.A consciência sutil são os padrões cármicos arraigados que produzem consciências grosseiras vida após vida. Sua continuidade é maior, mas não ilimitada.A consciência última é o aspecto luminoso da vacuidade. Quando se diz "vazio é forma" está se referindo a isso, ou também quando se diz que o dharmakaya é prenhe de todas as possibilidades.A disputa entre as escolas se resume em quatro posições:1) Visto que é possível transformar esta terceira consciência num objeto e reificá-lo, algumas formas de budismo se apegam ao antídoto e produzem uma negação quanto a esse conceito.2) De uma forma um pouco mais sofisticada, algumas tradições afirmam coisas tais como "natureza de buda", etc. Isso equivale a praticar de forma não-causal e abandonar a noção de um resultado, já que o resultado está presente desde o "princípio sem princípio".3) A posição de Nagarjuna como interpretada por Chandrakirti, porém, não cai em nenhum extremo de afirmação ou negação, e apenas revela esta natureza através de "domar tudo a ser domado", mostrando o equívoco na manutenção de qualquer fixação a doutrinas.4) A partir da posição de Nagarjuna, todas as diferentes doutrinas surgem como meios hábeis a serem utilizados em relação a necessidade dos seres. Assim, como não há antídoto a ser aplicado ou aperfeiçoamento a fazer, nada é desperdiçado.Encontraremos por todo lado praticantes e professores do dharma mais ou menos fixados em qualquer uma das quatro formas, seja por ação compassiva de ensinar aquilo que os seres precisam e não o que ainda não são capazes de entender, seja porque eles ainda mantém fixações a teorias e sustentam suas opiniões. Creio que é noção comum que o próprio Buda ensinou das quatro formas simultaneamente, mas como não somos oniscientes, em geral surge um carma de preferência e a necessidade de defender idéias desse ou daquele tipo e aplicar antídotos.
...Nesse âmbito, tudo soa nonsense. Quando nos referimos a "mente", estamos falando dela como um objeto, mas a mente "última" é a fonte de sujeito e objeto, ou ainda, a coemergência de sujeito e objeto, e em nada difere da própria vacuidade.Porém, até mesmo "vacuidade" pode se tornar um ponto de fixação. Algumas professores até mesmo dizem que um sutra como o Prajnaparamita ainda revela uma leve tendência niilista, apesar do "vazio é forma, forma é vazio". Eu discordo deles, porém a questão da luminosidade do vazio só vai ficar realmente clara em textos tais como o Uttaratantra de Maitreya. De uma forma mais simples, se pode dizer apenas que todos os conceitos são meios hábeis, e não pode haver um conceito cujo sentido em si seja o entendimento ou realização daquilo que nos interessa, o dharma. Quer dizer, o vajrayana brinca com isso através do próprio termo "vajra" — mas isso é um meio hábil que algumas pessoas de bom mérito podem usufruir, não é meu caso. Em certo sentido, vajra, mente última, vacuidade, natureza de buda, perfeição da sabedoria, grande perfeição, nirvana, dharmakaya, etc — embora não sejam a mesma coisa, referem-se a mesma coisa, a qual não pode ser perfeitamente adequada a qualquer conceito. E é claro, se quisermos ir mais longe, em outras tradições religiosas, por exemplo, com certeza encontramos muito mais palavras. É muito importante que não achemos que prática espiritual é ficar descobrindo novas palavras e novas conexões entre as palavras. Descobrir que Fulano é outro nome para Beltrano não diz nada a respeito de conhecer a pessoa, chamemos ela de Fulano ou Beltrano. Há uma natureza última da consciência a ser conhecida e/ou realizada ou uma consciência última?As duas perspectivas existem, as duas não são definitivas, a segunda é mais sofisticada que a primeira. A prática pode ocorrer de forma causal, em que buscamos algo, ou de forma não-causal, em que usufruimos de algo. A prática causal é feita com grande esforço, e leva um longo tempo. Em termos não-causais, ela pode ser sem esforço ou com esforço. A prática sem esforço é melhor, para aqueles que são capazes dela. Para pessoas como eu, porém, isso são só palavras a que eu me apego. Porém cabe sempre lembrar que enquanto houver a noção de que algo esteja acontecendo, sendo descoberto, realizado, ou que nos dê qualquer espécie de conforto ou segurança, devemos perceber que isso é apenas um sonho, e assim não nos vincularmos a nenhuma espécie de fenômeno particular. As teorias filosóficas, o chocolate e o sexo estão nessa categoria.

15.10.12

Compilações de um A

Era um instante antes da tempestade e joguei uma moeda dentro do trovão. O trovão provou e sentiu que era bom. O trovão multiplicou a moeda. A tempestade provou e sentiu que era bom. Então a tempestade caiu com uma miríade de moedas. As pessoas tombaram com as moedas fincadas pelo corpo.
Tombaram felizes e ricas.
"Mentira!" disse uma grande, gorda e cinza Cumulonimbus - "Agradeça a industria do alimento" .
Saí de casa para comprar miojo, apenas.
No meio do caminho perdi as malditas moedas. Anarquizei a mente, pois a desordem é a mentira do otimismo. E como brilha o otimismo quando está correto!

Como visto em: Turmei // Compilações de um A -1998 - Editora Cipó

9.10.12

Moleira do ABC


A B
.


Parece metal retorcido que escorre pelas veias, que me impede de passar.

 C D E F
Essa força magnífica flui com fel pelo caminho.

GHI
Este alfabeto estúpido, entupido, que me impede de passar,

JKLMN
me impede de passar, me... passar...

OPQ
A substância misturada preenchia as mentes;
delírio vai, perturbação e confusão.

RSTUV
O ar viciado esmagavas, esmagavas,
esmagavas, esmagavas, esmagavas.
WX.O alfabeto estúpido, entupido, que me impede de passar, me impede de passar. Me impe|
.


YZ

observação malkaviana

só tem doido, de uma forma ou de outra.

5.10.12

Cosmogonia e a Rosa dos Ventos


Uma fagulha cruza o universo por uma era indefinida. Esta fagulha, azul e amarela, espoca nas mãos de Elohim. A fagulha luminosa se retorce e toma uma forma carnal, similar ao que viria a ser o homem. Elohim utiliza o planeta Terra para cultivar a vida. Ele cria um panteão chamado Egrégora. Para lá são enviados deuses de outras dimensões...

Elohim os abandona para todo o sempre.

Na floresta mais densa:

- Vento! Devolva-me a carne. Oh servo da danação, que o fogo divino te cegue e minha fé em Elohim esmague-o. Liberta-me, pois não tens o direito.

Terra não pode mover-se. Os galhos de uma árvore podre trespassam seus braços, penetrando na barriga e entrelaçando a espinha.

 “Ronronar a revolta, renova a ruína, ruim, ruína, ruim e ruim. Ruma à relva, oh réu repugnante”.

O som gutural escorre pela terra lodosa e enjoa os ouvidos com seu tom putrefato. Vento encara o deus cativo, encurvado sobre uma pedra preto azeviche no escopo da nascente de um rio.

No panteão Egrégora:

 Água e Fogo observam a situação através das muralhas verdes de fumaça.

- Como pôde este demônio acumular tamanho poder em meio aos terrenos?
- Vento acumulou conhecimento da Natureza, bebendo na fonte ancestral. O que fazíamos neste ínterim?
- Mel, carneiros e ambrósia.
- Sim. E tu ainda sorris da onipresença, Fogo?
- Não tente o coloquial mundano em nossas moradas, Água. Deixe para Elohim e Terra, resolverem o entrave.

Luz adentra o salão. As muralhas de fumaça verde aumentam sua vazão e as imagens ficam nítidas.

- Olhe bem, com tua visão destreinada. Aro perfeito de liga prateada é o teu olho, Fogo. Só lhe concerne o imaginário tolo que inseriu na cabeça dos mortais. Fúria abominável, deus sol, derrotado!

Corado e nervoso, Fogo afastou Água de seu lado e afundou a face quadrada na fumaça.

Na floresta mais densa:

- Rutila a revoada. Rosto roto. Reclamo o receptáculo.

- Elohim não permitirá que uma força demoníaca desnorteie a humanidade e aqui estou, pelos deuses do panteão, para frear tua gana.

- Ralha-te ruminante.

Vento dissolve seu corpo sobre a pedra preto-azeviche. Um aroma de eucalipto envolve o lugar.

No panteão Egrégora:

Fogo balança a cabeça de forma negativa. Joga o corpo em um pequeno monte de plumas.

- Bobagem a contenda. Aquele ser não tem forças para nada. A figura do diabo é mais interessante que aquele porco feito de ar.

- O conhecimento que leio naquele ser é mais vasto do que o nosso.

- Terra é um humano com regalias de um deus. Confiei-lhe a missão de deter Vento. Você está certo Água, o conhecimento alimentou o poder de seu irmão.

Um estrondo percorre o salão e pelas cortinas de cetim passam Tempo e Espirito de braços dados.

- Luz, seu velho! Abra logo as palavras para o expansivo Fogo.

- Não passam de enfeite, esquecidos até pelos terrenos.

- Fogo... Há uma década, Água encontrou a Rosa dos Ventos. Estava nas mãos de Vento.

Fogo ergueu-se sobressaltado. As plumas chamuscadas, voaram ao seu redor.

- Pilhéria, meu irmão. O inferno não pode conter a língua traiçoeira de Água. A Rosa dos Ventos foi-se com aquele vexame do Mar Morto.    

Ao redor do mundo:

Direita
Um carro permanece, boa parte da manhã, engripado no poste. O resgate já conduziu o motorista acidentado ao hospital mais próximo. O guarda de transito desvia o fluxo de veículos para uma rua adjacente. Donas de casa preparam doces de amêndoas seguindo a receita dada na televisão. 

Esquerda
Seguem os protestos na praça em frente à sede do governo. O bloco de pessoas entoa canções de cunho político. Apinham-se cartazes com mensagens sociais imperativas. Na segunda investida do batalhão de choque, os revoltosos são por fim dispersos. A contenção progride em direção ao rio, em meio a pau e pedras. Os contidos dão ré, em meio a gás e borracha. Um pedreiro coça sua cabeça ao observar o erro de medida na junção de duas paredes.

Cima
Numa plataforma, o monitor repassa instruções de como proceder para um salto bem sucedido. Mas uma das garotas chora compulsivamente. Talvez o salto seja cancelado. Uma jovem executiva dobra a barra de seu vestido enquanto aguarda um café expresso da maquina nova.

Baixo
Para levar o cervo abatido até a vila, três homens se prontificam. O caminho menos tortuoso é pelo rio. O bote é antigo, mas agüenta, em seu limite, o peso de todos. A cabeça do cervo segue submersa na água.

No panteão Egrégora:

Luz acaricia um globo espelhado. O sol reflete a manta de ouro que adorna seu corpo. Harpas flutuantes ressoam ao redor. Som derruba os instrumentos no chão e se ajoelha ao lado de Luz.

- Está certo da posse da Rosa dos Ventos? Água me contou os problemas recentes, entes, entes.

- Foi vista através da muralha de fumaça. Vento a manuseia todas as noites. Está aprendendo os mecanismos.

- Mas a peça é gigantesca. A própria Natureza a cunhou antes de entrar em transe. O querido Vento está fora de eixo. Que farei sem ele, ele, ele?

- Demônio esfolado do abismo de Furfur. Vaga no planeta desde o sempre. Nunca se deu o trabalho de pisar aqui em Egrégora.

- Ouço seu resmungo rouco. Terra está preso em seu próprio Elemental. Natureza poderia salvar sua forma humana daqueles galhos, galhos, galhos.

- A folha da floresta goteja uma seiva em seu dorso. Só o Tempo responde quando se livrará.

Tempo surge sem sua face na frente de Luz e Som.

- Digo que não tenho mais passagem a responder. Agora, antes ou depois. Espírito sentiu o limite há pouco. A última trava da Rosa dos Ventos foi deslocada por Vento.

- Baixo ente. Com ele não quero ter. Elohim deixou-nos a Rosa como sendo a guia de direções para os humanos. A mim, me corroeu por todo o sempre a curiosidade de saber o que aconteceria se a última trava direcional fosse deslocada. Mas o ato em si, gera temor.

Estalos ribombam do raio que hachura o céu. A pele de Luz retesa como a de um velho no frio. Fogo corre em direção à muralha verde de fumaça.

- A Rosa dos Ventos foi acionada!

Espírito encarna o corpo de Som.

- Você fala em temor, seu patético. Tu és um deus. Que são os humanos?

- Lunáticos, sim eles são, Espírito.

Água escorreu temeroso pelo piso de prata.

- Não subestimem a humanidade. Acontece agora uma catarse no planeta. Eles estão descobrindo a nova direção liberada por Vento. Vão vir todos nos visitar? Preparem-se.

- Espírito? Olhe minhas chamas. Ceifarei muitas vidas que aqui ousarem chegar.

Ao redor do mundo:

Direita
A aeronave, com duzentos passageiros, inclinou suas asas para baixo.
- Já vamos pousar?
- Não, não. Creio que não. Mal deixamos o aeroporto.
- Mas eu queria mesmo mudar. Ir para lá. O que você acha?

Esquerda
- Queridos, hoje vamos numa excursão.
- Professora, nós vamos para lá?
- Vamos sim... Por aqui, para lá.

Cima
Dois amigos conversam nas areias de uma praia.
- E é por isso que eu chamei a Carla para morar no meu apartamento.
- Sabe que penso agora, numa consciência de estar aqui e existir no mundo? Poderíamos...
- Ir pra lá? Vou ligar para a Carla quando chegarmos.
E os dois se juntaram a uma pequena turma de pescadores.

Baixo
Um comboio do exército sai de uma estrada esburacada na mata.
- E dá uma vontade, senhor, de metralhar qualquer um que não deixar a gente fazer um reconhecimento. Entende?
- É o que todo desbravador faz quando se move para lá, soldado.

No panteão Egrégora:

- Rompante risonho, revela revolta!

Vento percorre de uma ponta a outra a Egrégora.

- Já é tarde, Vento. Tarde para censurarmos seus atos. Tarde para desfazer a percepção dos homens. Brinque à vontade. Aguardemos a chegada de todos. É o momento de uma nova hierofania.

- É engraçado. Vejo as primeiras pessoas avançando nas novas terras. Qual poderia imaginar que além da direita, da esquerda, frente e atrás, baixo e cima, poderia ocultar-se uma direção completamente diferente? Pudera eu que tudo sei, ainda ter estas surpresas.

- Não, Espírito. Ainda pode se surpreender. Veja quem chega antes por nossas portas.

Terra passa por todos, sujando de lodo o caminho. Vento o encara com um sorriso aberto. Terra zune uma espada no ar e a crava no peito de Vento.

- Ele sangra! Oh Elohim, que mal foi liberado em ter alterado a Rosa dos Ventos?

Água abraçou Terra e cochichou em seu ouvido:

- Somos humanos, enfim?

- Foi o preço da catarse humana.

Os deuses debulham-se em lágrimas, desorientados pela Egregóra. Clamando pela força criadora maior, silenciosa em sua eternidade.

- Elohim, Elohim. Onde está tua força?

Uma nova direção:

- Olhe aquelas pessoas, filha. Parecem perdidas e confusas.
- Papai... Já que chegamos até aqui, que é lá, antes, quando havíamos partido, podemos fazer o que quisermos?
- Eu também me sinto estranho, filha. Mas eu tenho uma arma.
- Se o senhor tem uma arma é melhor começar a usar. O brutamonte de rosto quadrado está vindo com tudo na nossa direção.

“Atenção, aqui é o exército da ONU, afastem-se do perímetro e aguardem instruções”

- Permissão para abater a ameaça senhor.
- Deus! De onde surgiu aquele carniceiro?
- Ele veio... Aparentemente... De lá, senhor.
- Elimine o alvo, soldado. Vamos civilizar esta bela região. Há muito a se fazer.

3.10.12

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Diz o líder a sua turba:

- De nossos próprios corações obtemos o cálice maior da pós-vida. A insegurança que habita nosso invólucro será execrada. Regressamos no pó do pó. Paz, como uma manta, a tudo preencherá.

O nome é Beatriz. Dezoito anos do corpo curvilíneo, moreno, tenaz. Olhos oblíquos, grandes e expressivos. Piscam em câmera lenta para o púlpito. Púlpito azul claro de pupilos estigmatizados. Púlpito de seda vermelha, pupilos despidos enfileirados. Palavras-verdade que doem num mantra interminável, indelével.

- A família externa é só, e assim foi por muito tempo, uma base borrada, à parte da verdade nua, primordial. Verdade una que te traz à família final, fraternal. Somos a cópula de amor. Final, una, fraternal, nua.

O coral suave repete palavras firmes. Quatro cantantes de tessitura alva, hipnotizante.
A melodia percorre o salão pobre de paredes descascadas, os pés de cinqüenta pessoas pisam a terra batida e o corpo balança num ir e vir sem sair do lugar.

- Já sabem. Já tem certeza. Seus pulsos firmes têm a decisão que lhes propicia uma eternidade tangível, confortável. Não cansa mais a procura do arroz e feijão, o abate da galinha, do porco, do boi. Vocês sabem que a verdade da fome é um câncer perigoso. Não é natural viver buscando o ouro para mastigar a comida. A natureza fornece o que comem aqui. E aqui, quantos cansaram o corpo por abater a galinha, o porco, o boi? Ninguém. Nenhum. Por que é tudo unificado. Somos um pensamento universal.

Rostos sorridentes, armados com dentes amarelos. Felicidade estampada. Balançavam mais e mais. Beatriz ergueu os braços finos, escorrendo os dedos nos longos cachos de cabelo. Esta feliz. Mais que um sorriso, ela ri. Risada aberta, honesta.

- Há meses lhes foi entregue a chave da verdade. A liberdade plena. O coração liberto. Somos especiais. Preparados para a grande viagem que a Luz nos preparou. Eu sou feliz, sou transbordante, pois a Luz visitou meu corpo sacro e através dele me faço de instrumento para que cada um de vocês prove a verdade. Caminha só quem tem o passo certo. Se você esta aqui, sinta meus olhos na sua alma. Sinta a unidade.

Sol ardente, escorrendo as três da tarde, nas janelas grandes e gradeadas do salão. O matagal alto, parado pela ausência do vento, vai de uma planície a outra. Terreno irregular, difícil de definir. No cenário picante deste isolado local, cinco homens correm selvagens, tropeçando e arfando. O retardatário, mais obeso, com olhos vermelhos e suor abundante olha para o céu. Ele avisa roucamente, os que vão à frente:

- Urubus. Urubus em circulo.

Não comentam a observação. Nem ao menos tiram o olhar do mato alto. Apertam a corrida e avançam. Surge um telhado cinza, metros à frente. E a visão vai se ampliando. Cruzam com uma placa de madeira espetada num toco, escrita à mão, lê-se Luz Eterna”. Os homens não param para ler. Já sabem onde estão. Eles conhecem o símbolo abaixo das letras, uma estrela com uma meia lua no centro.

- Ah meu Deus do céu. Ah meu Deus do céu. Proteja minha criança. Não vai dar tempo... Não vai dar... Meu Deus, por favor.

O homem a frente de todos suplica com voz embargada, olhos lacrimosos. Rosto moreno desmanchado em dor. Contrario ao corpo firme, resoluto nos passos corridos.

- Tenha fé. Tenha fé! Vai, vai, vai...

- O templo! Olhem lá.

As galinhas livres saltam e cacarejam, batem asas trombando nos homens. Porcos e bois dividem o mesmo cubículo de lama, alvoroçados com os esbaforidos recém-chegados. Corpos putrefatos, mal enterrados e exalando carniça, assustam os homens.

- Vamos irradiar a força do cosmo. É hora de atravessar o principio da Luz Eterna. Abençoados. Vocês são todos abençoados! Flutuem até minha alma. Flutuem até minha alma. Flutuem!

Correm pela lateral do salão. Um deles começa a bater no vidro, passando de janela em janela. Bate no vidro, puxa a grade. Força a visão para o lado de dentro. Há muita gente. Num púlpito improvisado com caixotes, um homem magérrimo, cabelos desgrenhados, seminu, aparece em êxtase discursando algo ininteligível.

- Beatriz! Beatriz! Beatriz! – Ele retira um revolver da cintura. – Beatriz Sanssamariana!

Todos os cinco sacam revolveres. Só há uma porta lateral, lacrada por tábuas grossas e acorrentadas.

- A minha família é a unidade da verdade que nos completa até hoje, aqui, no solo sagrado. É aqui que nossos corpos vão ficar! As carcaças sem brilho. Espera-nos a Luz Eterna.

“Luz Eterna”
“Luz Eterna”
“Luz Eterna”

Galões de cem litros, impulsionados por vários voluntários, caem no chão de terra batida. Beatriz retira a camisola. Todos os presentes retiram suas camisolas idênticas, brancas e surradas. O salão fede gasolina, empapada com a terra vermelha. No púlpito, o guru geme alto de olhos fechados. As cantantes do coral interrompem sua melodia de vogal única. Embocam mais gasolina sobre seu líder.

- Beatriz! Por favor, Beatriz! Sou eu... Seu pai, Beatriz. Beatriz! Aqui, Beatriz!

A jovem vira o rosto na direção do pai desesperado. Seus olhos estão vazios, sorrindo. Ela deita no chão. Todos deitam. Esfregam-se no lamaçal.

- Desgraçados... Desgraçados... Filhos da puta! Desgraçados! Ah Pai do céu! 

Ele se pendura na janela, tenta clarear sua visão da filha no meio da maçaroca de corpos. Os outros quatro homens já quase colocam a porta ao chão.

- O ser carnal e o ser espiritual são unos. Meu exterior é como o seu. O meu interior é como Deus. Seu interior é um reflexo do meu. Mas a Luz pede que nosso interior volte ao conjunto. O interior e o exterior não podem mais ser diferentes. O caminho sou eu. Seu corpo é meu. Sou você. Você é Deus.

O pai atira duas vezes em direção ao louco. Acerta a cabeça e o estomago do homem. A porta vai ao chão e o templo é invadido. O vidro estilhaçado cai sobre seus ombros e os olhos se fecham e se abrem. Uma luz clara e quente os invade. Segue um estampido alto e um calor insuportável. Todos os vidros estouram. Gritos pavorosos, gemidos. Corpos pegando fogo, debatendo-se porta a fora. O pai de costas no chão duro, chamuscado, procurando a silhueta da filha nas bolas de fogo. Caem as lágrimas, desesperado. É tarde demais! É tarde demais...

O Erro

§ O navio da humanidade tem, ao que se julga, um calado [distância entre o ponto de flutuação e a quilha da embarcação] sempre maior, quanto mais carregado for, quanto maior, acredita-se que mais profundo é o pensamento do homem, tanto mais seu sentimento é terno, que quanto maior estima tiver de si próprio, tanto maior será o seu afastamento dos outros animais, que quanto mais ele aparecer como gênio entre os animais, tanto mais se aproxima da essência real do mundo e de seu conhecimento, mas julga faze-lo por meio de suas religiões e de suas artes. Estas foram, em verdade, uma floração do mundo, mas que não está de modo algum, mais próximo da raiz do mundo. Não se pode, de modo algum tirar delas uma melhor compreensão da essência das coisas, embora quase todos acreditem que sim. O Erro! O erro tornou o homem tão profundo, tão sensível, tão criativo, que produziu uma flor tal como são as religiões e as artes. O conhecimento puro não teria tido condições de faze-lo. - Quem desvenda-se a essência do mundo nos daria a todos a mais desagradável desilusão. Não é o mundo como coisa em si, mas o mundo como noção [Erro], que é tão rico de sentimento, tão profundo, tão maravilhoso, trazendo em seu seio a felicidade e a infelicidade. Esse resultado leva a um conceito da "negação lógica do mundo", a qual de resto, tanto pode conciliar com uma afirmação prática do mundo como o seu contrário.