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26.10.14

Era uma vez, Bergamota.

Era uma vez, uma ilha tomada e comandada por lhamas. Nenhuma delas escovava os dentes, pois não achavam necessário. Cada qual tinha seu par de bengalas e seu colete cervical, e agora a moda era usar um chiclete mascado na ponta do nariz.

Um dia, uma delas resolveu sair da ilha. As outras lhamas pensaram: “Mas que absurdo, azeitonas não têm caroço!” e isso deixava a lhama que saiu, muito triste. Ela sabia que teria de aceitar as consequências de sua escolha agora que estava sozinha. A sociedade das lhamas enojava todas as que saiam da ilha, e não aceitava de forma alguma que qualquer uma delas retornasse. Bergamota, a lhama viajante, se foi pra todo sempre e as outras ficaram para trás jogando xadrez, tomando chá com baratas e fincando cabeças humanas em estacas. Enfim, sendo felizes.

Agora Bergamota estava só, com apenas um capacete de queijo entre as orelhas e uns três biscoitos de alho poró no bolso. “É bastante dinheiro, dará para duas semanas ou mais”, pensou ela.
O rumor foi espalhado pelos besouros: “Mas como essa desgraça dessa lhama saiu da ilha, sendo que é popularmente sabido que nenhuma delas sabe nadar e que a todas lhe faltam polegares opositores para construir barcos?”. A resposta eu lhes dou: Saiu voando! Não é isso que as lhamas fazem, ora bolas?
Ela voou durante três dias enquanto a luz diurna banhava o mar de groselha, os vales de pudim, os picos de sorvete de baunilha e a floresta de chaves-de-fenda. Sempre procurava abrigo quando a noite chegava. Sabia desde que seu primeiro tufo de pelos lhe preenchera as costa, que a noite era das criaturas libertinas, vis e sádicas que se drogavam com luzes artificiais e promoviam bacanais estroboscópios.

Enfim, ela chegou ao continente e foi morar dentro de uma caneca espaçosa na cidade de Câncer, que era bem parecida com Peste Bubônica, mas tinha mais galões de oxigênio (o que era de certo modo mais legal). Se estabelecer lá foi bem mais difícil do que o esperado. O biscoito de alho poró, não era a moeda corrente no continente. Lá eles usavam miçangas-multicoloridas. Na casa de câmbio, seus três biscoitos deram para apenas uma miçanga dourada, que foi gasta aos poucos, mas que não durou muito tempo. Como consequência da falta de planejamento financeiro, tomaram-lhe a caneca com uma ordem de despejo e ela foi parar na sarjeta (guardem bem essa lição, crianças).
Logo ela estava no sujo mundo das luminárias entorpecentes.
Aprendeu que, com um pouco de influência na comunidade sub mundana, podia se encontrar luminárias de todo tipo. Cada qual com seu efeito. A famigerada luminária-de-mesa-de-consultório-odontológico era de longe a mais devastadora, e por isso, a mais popular. E a preferida de Bergamota, que trocando favores, um dia conseguiu ter sua própria.
Quem passava pelas imundas ruas daquele lugar, podia facilmente vê-la atirada ao chão pedindo por uma tomada onde pudesse ligar sua luminária por alguns minutos. Alguns dizem que houve uma vez em que ela se deixou aproveitar por um gafanhoto (tudo porque ele lhe havia concedido dois dias ininterruptos de tomada liberada). Outros dizem que vez ou outra, era possível vê-la acompanhada por uma nuvem de vaga-lumes conhecidos por cobrarem um preço camarada.
A vida de Bergamota se resumiu à libertinagem por durante muito tempo. Um dia, após ter de recorrer desesperadamente à luz stand-by de um VHS abandonado, ela se deu conta: “Puxa vida! Azeitonas não têm caroço!”.
Foi uma caminhada difícil para sair do mundo das luzes artificiais. Ela viu que precisava de ajuda e se juntou ao grupo de apoio Irmãos da Escuridão, qual lema era: “O Sol é nosso irmão, na noite só haverá escuridão”. Lá ela aprendeu a controlar seus impulsos e a se acostumar novamente com a luz diurna.

O tempo passou e finalmente Bergamota se curou de seu vício. Agora era uma lhama renovada, com novos planos. Resolveu que abriria uma cafeteria onde venderia jujubas e nada mais. Afinal, era uma cafeteria.
Agora que sabia como administrar suas miçangas, começou o pequeno negócio numa casinha na árvore. Tudo teria de ser feito usando salto alto. As jujubas são muito sensíveis.
Era um dia de trabalho comum, os clientes iam e vinham da cafeteria e deixavam lá suas preciosas miçangas. Bergamota se sentia muito bem, mas de repente ela escutou um sussurro. Não, não era um sussurro... Era um vento de memórias. Ah... como ela chorou! Chorou um rio, porque naquele momento tirou um fio de barbante magenta de trás das orelhas e se lembrou do Abacaxi que tinha conhecido uns três fósforos atrás (e nossa, como os fósforos passam rápido!). Lembrava como se fosse ontem. Foi numa festa de Nossa Senhora Das Impressoras Desfalecidas que ela tinha o visto pela primeira vez. Ele fazia parte de uma trupe de artistas nômades e os dois pensaram até em fugir juntos, mas Bergamota era muito nova, e sua mãe ainda era viva. Logo ela descobriu e proibiu a filha de ir. O Abacaxi jurou que a reencontraria um dia, não importava onde ela estivesse.
Coincidentemente, o Abacaxi se lembrara dela também naquele mesmo instante. Mas depois de tantos pães de queijo e gotas de chuva, era difícil saber se valia a pena tentar reencontrar aquela lhama biruta.


Os dias se passaram como se passa tinta numa parede de lodo. Os negócios iam de vento em popa, e a cafeteria agora ficava numa imensa construção inflável. Tudo ia muito bem, mas Bergamota ainda se pegava recordando do Abacaxi vez ou outra. Quando isso acontecia, as jujubas ficavam inquietas e chorosas.
Numa manhã de sol forte, a lhama começou a sentir calafrios. Alguma coisa estava errada, algo iria acontecer. Ela teve vontade de pegar o primeiro louva-deus automático que passasse, e sair dali tão rápido quanto um espirro de tuberculose, mas não podia. Algo a prendia em Câncer. De uns tempos pra cá, afim de tentar se esquecer do Abacaxi, Bergamota passou a aceitar os gracejos de uma certa Almofada-de-Alfinetes muito gentil e poética. Ela não poderia simplesmente assoprar os alfinetes e esperar que tudo ficasse bem.


Do outro lado da história, o abacaxi também sentiu calafrios, mas ao contrário de Bergamota, tomou um vidro inteiro de Decisão Concreta. A bebida mal lhe caiu no estômago e ele já sabia o que fazer. Pegou seu barriu flutuante e saiu da ilha dos abacaxis, cruzando os sete edredons aguados da insanidade e enfrentando muita névoa amarga no trajeto. Mesmo assim, continuava sem nem pensar em voltar. “Vale a pena” - ele dizia a si mesmo- “eu preciso dar um oi e umas amêndoas a ela. Se não fizer isso, prefiro ir pro alcaçuz que me parta e crepitar em suas chamas eternas”.


No continente, Bergamota já não podia mais se aguentar. Alguma coisa estava acontecendo, ela sabia. Ela se sentia angustiada e seu coração tinha virado uma uva-passa. A Almofada-de-Alfinetes não era boba e percebeu o vazamento de melancolia na lhama. Chamou-a para uma conversa e a companheira lhe revelou tudo. A almofada foi benevolente e Bergamota até se surpreendeu com a compreensão dela. De um modo desconhecido para as duas, elas sempre tiveram certeza, assim como A e Y são ESTE, de aquele dia chegaria. Era uma questão de cordas vocais até tudo acontecer. Resolveram que iriam se separar.  

Dalí em diante, Bergamota foi a mesma, mas mudou de cor. Não mais queria aquele castanho pálido, precisava de mudanças, se sentia diferente. Agora usava branco com pintinhas pretas, a mesma cor que usava quando conheceu o Abacaxi. Pensava nele todos os dias agora, e vez ou outra perguntava aqui ou ali, se não tinham visto um Abacaxi.


Após meses de viagem, o Abacaxi finalmente chegou ao continente e foi logo atrás de algo que fosse uma pista do paradeiro de sua lhama querida. Algo lhe dizia que ela não estava mais na ilha das lhamas, pois então só poderia estar ali. Mas antes de tudo, precisava repor suas energias.
Parado debaixo da sombra de uma árvore para descansar suas coroa de folhas, ele pensou: “Jujubas me cairiam bem agora. Onde será que encontro uma cafeteria?”. O pensamento saiu voando e foi parar no balcão de uma sapataria que funcionava bem ali, numa casinha na copa daquela árvore. O Cavalete-de-Pintura, que era o sapateiro, viu o pensamento entrar pela janela e parar em seu balcão. O leu e saiu à janela para procurar quem havia pensado naquilo. Viu então o Abacaxi ali em baixo da árvore.
-Oi! Você por acaso pensou numa cafeteria, meu rapaz?
O Abacaxi tomado de surpresa olhou para cima e viu o Cavalete esperando que ele lhe desse uma resposta.
-Sim, fui eu, sim Senhor!
O sapateiro então lhe disse que ali naquele lugar onde era sua sapataria, no passado havia funcionado uma cafeteria, que agora tinha mudado seu endereço para a colina seguinte.
-Não é muito longe, você consegue chegar lá sem se cansar muito- disse o sapateiro.
-Obrigado pela ajuda!- disse o Abacaxi e se foi andando na direção da colina seguinte. Não teve dificuldade em achar a cafeteria e logo que a avistou, saiu correndo e abriu as condolências do lugar, que rangeram lamuriosas de suas dobradiças enferrujadas.
Já quase desfalecido, ele pediu um punhado de jujubas de limão. As jujubas lhe foram entregues e ele viu como eram boas e suculentas.
-Oh, pela Deusa Maior, de quem são as mãos que cuidam tão bem dessas jujubas? – Ele em voz alta exclamou.
- São minhas- Bergamota respondeu assim que saia esbaforida de sua sala de preparo das jujubas. Reconhecera a voz de seu estimado Abacaxi e saíra correndo para constatar com seus olhos, o que seus ouvidos não queriam acreditar.
O susto foi TÃO GIGANTESCAMENTE GRANDE que se você procurar bem, ainda conseguirá achar uma de suas pintas rolando por ai. Aquilo era real? Como podia? Desafiava todas as leis aerodinâmicas das fiadeiras originais! Não era possível !
Eles ficaram se olhando profundamente por muitos botões (e por profundamente eu quero dizer BEM profundamente. Como um buraco daqui até a terra das malignas fendas atemporais). E depois desses incontáveis minutos, eles se aproximaram um do outro e...

Trrrrriiiiiiiiiiimmmmm!!!!
Ouviram? ...Parece-me a sirene do fim.

O QUE?! QUEM VOCÊ PENSA QUE É PRA TERMINAR ESSA HISTÓRIA AQUI? NÃO! ONDE VOCÊ VAI?! VOLTE A ESCREVER SUA LOUCA!
ESPERE!

VOLTE!!



ESPERE!!! PRENDAM ESSA MULHER!

18.10.14

Um texto que estou postando aqui porque a Julia me enviou e estou postando, sem o consentimento da mesma, já que sou vidaloka

Se o mundo inteiro parasse agora, e todas as pessoas dentro dele parassem também, eu iria sair andando por aí. Roubaria um carro e iria para um museu. O museu imperial de Petrópolis seria perfeito.
Adentrar-me-ia nas dependências reais e me vestiria com um dos vestidos expostos. Entraria numa das carruagens e logo depois sairia, me tornando uma imperatriz cansada da longa viagem. Desceria os degraus do veículo, ajudada por um homem invisível, e me dirigiria ao escritório mais próximo. Nele, me sentaria à mesa de reuniões e teria uma enfadonha conversa de gabinete com todos os que jazem mortos.
- O que fazer com a falta de amor do povo, milady?
- Dê-os brioche!
Depois sairia usando só as roupas de baixo, pegaria meu carro e iria ás compras. Entraria numa casa qualquer que estivesse com a porta aberta e fosse bonita o bastante por fora. Os habitantes estáticos me olhariam com espanto e eu os imaginaria dizer:
- Absurdo dos absurdos! A Imperatriz está seminua!
Em troca, eu responderia:
-Vocês, criaturinhas vis e imaginárias, deem-me seus alimentos mais frescos.
Encontraria a cozinha e me abasteceria de cenouras, batatas, um pequeno pezinho de repolho, muitas maçãs, damascos e nozes (Ora, ora! Uma família bem abonada. Que sorte a minha). Voltaria abraçando tudo com certa dificuldade, agradeceria de todo coração os nojentos habitantes, guardaria as coisas no carro e assaltaria uma bela padaria.
Utilizando de um par de cenouras letais, subiria no balcão e diria à atendente que me vendesse a preços absurdos todos os pães e bolos mais suculentos.
- Vossa Majestade por acaso está fora de si? – Ela imaginariamente diria.
- Claro que não, ensaio de imbecilidade, não vê claramente qual é o meu plano? Entrei aqui assaltante, sairei daqui perfeita vítima.
Ela então, tomada por clareza, colocaria tudo de mais delicioso dentro de uma grande cesta. Eu, ainda em cima do balcão, roubaria astutamente uma balinha de café.
Com cesta em mãos e a balinha entre os dentes, sairia de lá me sentindo transtornada. Imaginem vocês, 8 reais por um pão de queijo de ontem.
Rapidamente picaria a mula de volta ao meu palácio. Mandaria as obedientes cozinheiras prepararem um delicioso cozido de legumes. Eu seria cada uma delas em turnos alternados e brigaria muito entre mim.
- Não sabes que deves tampar as panelas pra que a água dentro delas ferva mais rápido?
- Claro que sei, mas prefiro exercitar minha paciência.
Do outro lado da cozinha (é uma cozinha verdadeiramente grande essa):
- O que faz aí parada com essa colher de pau?
- Pretendia matar esta varejeira.
- Nada disso, vá logo avisar a majestosíssima imperatriz que o cozido está pronto.
Com tudo em ordem na cozinha, me dirigiria aos meus aposentos a fim de esperar que uma de minhas competentes cozinheiras me chamasse para a ceia.
Surpresa minha! Mal me deito e já escuto a batida na porta:
-Vossa Magnificência, o cozido está pronto.
Aprumada e devidamente calçada com um par de fabulosas pantufas felpudas quais os visitantes são obrigados a usar, sairia deslizando no soalho. Guiada pelo cheiro de comida, chegaria à mesa de jantar. Cumprimentaria toda a parentada insuportável e me escusaria por uns instantes (falha minha, esqueci de botar a mesa).
Me sentaria novamente, agora com a mesa posta, dizendo:
- Perdoem-me, estou um pouco indisposta.
- Onde estão suas roupas?
Era só o que me faltava, a tia imaginária mais insuportável resolveu dar-me o ar de sua graça.
- Não vê que é verão, velha medonha? Não me aguentava mais debaixo de tantas anáguas.
- Oh! Indolente ingrata! Me recuso a cear o mesmo que ti!
- Velha mal criada e cega! Não vês que teu prato não existe? Não há comida alguma aí! Nem mesmo estás a minha frente!
Ignorando a presença de todos os inexistentes, sairia marchando duro com meu delicioso prato de cozido em mãos. Sentar-me-ia no chão da sala de música e tomaria minha ceia fazendo barulho.
- “Shlrup” tomara que se engasgue, velha maldita “shlrup”!
Depois de ter me saciado, e sem que percebesse, cairia no sono ali mesmo no chão. Dormiria por horas a fio e teria os mais diversos sonhos e pesadelos. Por fim, acordaria à noitinha e me surpreenderia com as horas que se passaram sem que eu as visse passar.
Me sentaria de frente ao cravo e tentaria tocar uma sonata.
- Como são pesadas as teclas... E como magros são meus dedos...
Tentaria outra coisa no lugar, mas...:
- Oh, infelicidade minha. A harpa é demasiado grande para mim.
Desconsolada, sairia a passos largos até o jardim. Que beleza é um jardim à noite e oh! Quem eu vejo!
- Se não é o pior de meus inimigos!
- Se não é a mais bela de minhas inimigas!
- Marquês das Terras da Sanidade...
- Imperatriz Suprema da Corte...
Depois de breves cumprimentos e devidas reverências, começaríamos a travar uma violenta guerra de dedões. Longos minutos se passariam e no fim de minhas forças eu o venceria gloriosamente.
- Mais uma vez o venci!
- Sinto-me pisoteado por uma manada de elefantes...
- O convido para um chá, para que se possa recuperar as forças, e depois rogo para que não voltes mais a andar em minhas dependências.
- Sim, Vossa Benevolência.
Cansada e um pouco ferida da bravia luta, eu iria diretamente para um longo banho.
Graciosamente limpa e com novas roupas de baixo, demandaria que meu café da noite fosse servido na biblioteca onde eu estaria nas próximas horas. Sairia então correndo para a cozinha e seria novamente as cozinheiras competentes e imaginárias.
- Sirva uma poção de nozes com damascos nessa travessa. Ande já! A Imperatriz já está esperando!
- Não posso, sinto muito... a varejeira que tentei matar mais cedo chamou sua horda e encheu de vermes minhas mãos. Estou condenada a perder as duas!
- Pobre criança!
Todas nós ficaríamos desoladas e eu choraria de desespero por aquela pobre alma. Lentamente recuperaria o fôlego e levaria as travessas para a biblioteca imperial, assim como pedido.
- O café está servido, Vossa Majestade.
- Muito obrigada... O que aconteceu? Por que estás tão triste?
- É a criada, Minha Senhora. As moscas atacaram suas mãos e lhe encheram de vermes.
- Que tragédia!
E após pensar um pouco, teria uma ideia realmente genial:
- Tive uma ideia realmente genial!
- Sim, Vossa Majestade?
- Amputem as mãos da criada e lhe ponham no lugar uma pá e uma tesoura de jardinagem. De hoje em diante ela será chefe responsável pelo jardim.
- Vou correndo dar a boa nova, Vossa Benevolência! Garanto que a criada regozijar-se-á de tanta alegria.
Após a saída da criada, eu tomaria meu café e alcançaria o livro mais próximo. “Um Conto breve Sobre A Realidade”. Felicidade a minha, o livro se leria sozinho. Poderia continuar meu café sem precisar virar-lhe as páginas.
- Capítulo um: – diria ele – A história da menina biruta.
- Bom começo. – diria eu.
- Obrigado. – diria ele, e continuaria – Numa sala de estar de uma simples casa de classe média, se encontrava uma menina-moça que escrevinhava em seu aparelho computador.
- O que ela escrevinhava? – Eu perguntaria.
E então ele responderia:
- Ela escrevinhava seus pensamentos sobre como seria se o mundo inteiro parasse e só ela tivesse o poder de se mover.
- Não gosto dessa história, mude!
Mas ao fim de minha frase, eu perderia meus movimentos e o livro continuaria sua terrível falácia:
- Ela nem ao menos desconfiava que do lado de fora, uma equipe bem treinada de enfermeiros esperava o sinal do médico para que entrassem e lhe pusessem uma camisa de força.
- Maldito seja Marquês da Sanidade! Infiltrou um livro enfeitiçado em minha biblioteca! Pare! Por favor, eu peço que pare! Eu imploro que pare!
- Tarde demais, mocinha! – o livro diria e de dentro de suas páginas, grossas ataduras de algodão sairiam e prenderiam meus finos braços.
Não consigo lhes dizer mais o que acontece depois, amigos. Meus movimentos agora são limitados e, amaldiçoada que sou, mal consigo digitar o que penso.
Foi um prazer sem igual.

15.10.14

Ganhei mais preparando me para o desapego que preocupando-me com os resultados
"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos." - Timóteo pinto