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25.8.04

Bela-Parrachianismo

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Bela-Parrachia, Vida e Morte dos Mitos

Apócrifos Cabalísticos

Introdução
1. Bela-Parrachia e a Linguagem
2. Sobre o Criador
3. Arroz e o Mito
4. A Espontaneidade e o Caos Ordenado
5. Espaço, Tempo e a Felicidade
6. Ritual da Autodestruição
7. A Deriva e o Errantismo Parrachiano
8. A Virtude da Loucura
9. Usando o Vivido, Não se Vive, se Usa
10. A Raiva e os Sentimentos
11. A Família Parrachiana e a Guerra da Doença Contra a Natureza
12. A Maldição que Salvou Vidas
13. Mapa da Felicidade
14. A Vida dos Gansos e o Culto ao Lúdico
15. Sobre o Suicídio Místico
16. Epilogo (diário de Von Darsê)

Introdução

Bela-Parrachia , 10 de julho de 56 D.V (correspondente a 153 d.c)

Sou um eremita da seita mais conhecida como Bela-Parrachia, chamam-me hoje de Von Darsê, somos um grupo de pessoas obstinadas a querer saber em que acreditar, mas nada acreditamos, melhor dizendo, acreditamos nas respostas que encontramos durante um tempo mas sabemos que respostas nunca são verdades. Vivemos como errantes rodando por esse mundo, a procura de respostas que escreveremos sempre a carvão, assim até mesmo o vento poderá apaga-las. Von-Darsê sempre foi fiel sua cultura, mesmo que fidelidade aqui não signifique respeito a tradição, nem mesmo concordância. Nascida na terra do sol nascente sempre a magia e os sonhos fizeram parte dos seus cultos incultos. Vou contar-lhes então algumas historias que aconteceram conosco para que possam compreender melhor a nossa seita tão religiosamente pagã.

1-Bela-Parrachia e a Linguagem.

Espíritos “nômades” vagaram muito tempo, pelas mais diversas terras inabitadas e mórbidas, alegres e ensolaradas, entre essas ja tinham passado uma vez por uma cidade chamada Swan-Tao, a muito, muito tempo....
O povo dessa cidade não podia se lembrar bem, aquele povo ja era agitado demais, vivam em função do futuro, não tinham tempo para lembrar o passado, tampouco o presente. Os espíritos voltaram a aparecer na cidade de Swan-Tao de modo tão espontâneo que chocaram as pessoas desprecavidas, um espirito chamava demasiada atenção, esse espirito era mais conhecido por Von Darsê, um eremita “solitário” da seita Bela-Parrachia.
O povo em Swan-Tao falava tanto do acontecimento que nada comunicava, sua linguagem era pura verborragia, a alma deste povo era fraca, talvez consumida demais pelas excentricidades sadomisticas do mundo moderno, sua linguagem era tão rica, sua língua tão bem escrita que nada comunicava, intrigado pela linguagem harmoniosamente brilhante dos Bela-Parrachia, um sujo e nobre camponês resolve perguntar a Von Darsê :
- O que precisamos para dizer como dizes? Comunicar como comunicas? Ser o que sois?
- Precisardes antes de mais nada serdes sexualmente ativos, assim não precisaras mais gaguejar a um instinto reprimido, não precisais de linguagens tão complexas quanto a complexidade que não alcanças por estardes tão presos e cansados como mortos. Palavras são palavras, olhe em meus olhos e veja além...

O jovem compreenderá a mensagem, olhará não só para os olhos de Darsê mas também para seus gestos, a velocidade de sua fala, sua movimentação labial, e começou a compreender o que nunca havia compreendido.
- Posso ver não só teus movimentos, como teus sentimentos, mas como posso ser livre? Como posso gozar do livre sentido do nonsense ?
O sábio ficou parado observando o jovem conseguir sua própria resposta....
O jovem olhou para o chão então e pode ver uma formiga que batalhava para levar um pequeno pedaço de arroz para tua casa, o jovem pegou teu arroz naquele momento, observou-o e disse:
- Todos somos grandes, todos devemos ser um pouco abusados e nunca humildes demais, devemos ser naturais e espontâneos (e comeu o pedaço de arroz). Eu hoje desejo sangue, desejo com inocência, desejo acima de tudo arroz.
Disse tudo com um sorriso altamente natural no rosto enquanto bebia vinho e comia arroz.
Era visível demais, Khon Hu, o jovem , apresentou-se aos espíritos e disse-lhes:
- Descobri todo sentido da comunicação mas não devo agradecer-lhes, apenas pelo arroz que jogastes no chão, esse me trouxe luz.

2-Sobre o Criador

O povo Bela-Parrachia dirigiu-se ao centro de Swan-Tao e começaram a montar um gigantesco ganso de bambu, o povo de Swan-Tao parou para observá-los, entrando em choque com a cena incomum de seus dias monótonos, o mais interessante era que o ganso de bambu de aproximadamente 2 metros possuía uma genital de aproximadamente 40cm, alguns então começaram a debochar do ganso e Khon-Hu deteve-os com sua neo-sabia-linguagem.
- Ganso, Deus, Genital Grande, Valor Sexo, Risadas, Pequenez, Moralismo, Embriaguez, Estupidez....então ficou olhando para cima e para baixo, depois manteve suas mãos numa linha retilínea, na linha do horizonte, na aurora, tocou então no cerne da questão.
O homem que até então zombava ajoelhou-se e disse:
- Perdoe-me, o tempo me matou, a falta de sexo enrijeceu-me, a moral trancafiou-me, preciso livrar-me de toda essa morte
Então gritou com toda força :
- 1, 2, 3, 90, 4 !!!!
Com esse gesto mesmo o homem comum tornou-se ali um Bela-Parrachia e quebrou o encanto nebuloso que haviam feito em ti. O homem então começou lentamente a andar de trás pra frente criando não só uma nova maneira de andar, criará ali, um novo mundo, e afirmará aos prantos:
- SOU TÃO DEUS QUANTO DEUS FOR O GANSO!! Seguirdes então o caminho que não levas aonde deseja chegar..
Von Darsê ainda falará com a multidão que aos poucos se ajoelhava para a estatua de bambu do ganso:
- A magia vos cerca, e não deveis temer, pois tudo que será feito poderá ser desfeito, pois tudo que ostentastes, tudo que tomastes, será roubado de ti pela magia. A magia de nosso criador que procuramos eternamente sem nunca ter encontrado, que procuramos eternamente sem ao menos querer encontrar. Viva Parrachia, que bela!!!
O povo então começou a observar a magia, observar que um ganso de bambu era tão poderosamente místico quanto mística fosse a magia de quem pudesse olha-lo, e as pessoas eram tão deuses quanto mágicos fossem eles mesmos, mas o povo ainda não compreenderá os arrozes que a todo momento os Bela-Parrachia jogavam no chão, e a todo momento comiam...

3- O Arroz e o Mito

Enquanto os Bela-Parrachia jogavam bolinha de gude, grande parte do povo os observava e tentava compreender aqueles espíritos ensolarados, alguns insultavam-os, alguns os veneravam, mas ninguém era de forma alguma indiferente.
Durante um ritual os Bela-Parrachia disseram todos juntos como num grande refrão harmoniosamente caótico:
- Bolas de gude, acerte aquela bola, derrube-a, esmague-a, aquela bola ja é velha demais.
Ficaram então correndo em círculos, gritando essa frase repetitivamente, eis então que a chuva começava a jorrar, destruindo sua própria cerimonia das bolas de gude, eles então começaram a comer arroz e dançar, esse era o famoso ritual da auto-destruição.
Nesse ritual destruíam suas próprias crenças em prol de novas crenças, assim poderiam sempre ir além na procura do desconhecido.
O arroz era um dos reagentes que utilizavam para fazer suas magias, utilizar sua alquimia, além de um grande vício que nunca poderiam largar se quisessem realmente superar a si próprios. O arroz continha uma magia tão grande que foi utilizada pelos Chineses para plantar e pelos Bela-Parrachia para chegar a um estado meta universal, o arroz produzia sensações neles que podiam ser comparadas aos transes hipnóticos produzidos em algumas tribos durante cerimonias religiosas, porem não se tratava simplesmente de um mero recurso psicológico.
Pelo arroz conheceram além do universo, e mostraram suas experiências para todos, mostraram o poder da dança dos deuses, depois aprendida por outras culturas e religiões, afirmaram que todos deveriam satisfazer seus desejos, qualquer que fossem, desde brincadeiras até os sexuais, independente de serem poligamicos ou monogamicos, independente de ordens políticas ou religiosas e assim o foi até a repressão e mutilação da naturalidade por pessoas quase sempre mal intencionadas.

"A grande verdade: a verdade temporal, a verdade que não afirma, a eterna duvida.”

4-A espontaneidade e o Caos Ordenado

Chuvia muito em Shaw-Tao, estavam todos no templo Quay-Wan, era um dia que não se podia ir as ruas, pois estava-se no dia da constelação Chen, dia sagrado para a religiosidade conterrânea. Um menino, porém, pedia muito aos país para irem a rua com ele, pois na rua se encontravam os Bela-Parrachia dançando e comendo arroz na
chuva.
O pai revoltou-se e bravejou com sua áspera voz :
- Isso é um absurdo, hoje é dia de Chen, algo terrível acontecerá a aqueles incrédulos, os ceticos sempre foram uma praga filho, escute-me bem.
Um ancião Bela-Parrachia que estava perto não pode deixar de ouvir, e retrucou:
- Digo-vos irmão, tens tanto medo do perigo do fogo, que não percebeste que o fogo ja te queimaste por dentro, enquanto vos o prendestes. Liberte teu filho, não permita que vossa prole queime convosco. Recusar-lhe-ei a vida?
O pai do garoto mordeu os dentes e começou a pensar, observou que toda sua vida havia reprimido seus sonhos, seus desejos, do que sempre quis fazer e não o fez pelo medo e obediência das tradições e moralismos mas ainda tinha medo de seu filho servir de teste para o azar.
Resolveu então sair junto de seu filho, abalaram-se os portões da ordem, tiraram as roupas e saíram correndo pela chuva, em pouco tempo estavam dançando pelados como os Bela-Parrachia, e claro, comendo arroz.
Tinham agora uma nova tradição, caoticamente destruíram a ordem e então constituíram essa nova ordem, a de se despir, dançar, comer arroz...os Bela-Parrachia juntaram-se então, começaram a jogar bolas de gude até que resolveram não mais dançar e sim ler, entrava-se na era da leitura na China.

Leitura de um trecho do diário de Von Darsê :
- Hoje 16 de abril de 48, o sol já se esconde dentre as montanhas,estou muito feliz, estamos conseguindo comprir nosso objetivo, apesar de não termos uma meta paradigmática, o povo ja se solta mais, dança mais, ri mais, se diverte mais e se preocupa menos. O imperador está preocupado com a diminuição do trabalho dos camponeses e parece desejar nossas cabeças, não me é estranho esse comportamento de um ser que prende dentro de si tanto fogo, as queimaduras, a depressão e o desespero se fazem assim. Nós desejamos sexo, sorrisos, diversão, cultura, leitura e caos harmônico. Estou realmente surpreso pela vida que podemos levar quando negamos a morte na vida.

5- Espaço, Tempo e a Felicidade

As pessoas se perderam no tempo e no espaço, as pessoas roubam o tempo e o espaço uma das outras, como querer encontrar a felicidade se você não detêm o tempo-espaço da sua vida?
Um escravo conhecido como Amadah-Len veio perguntar aos Bela-Parrachia :
- Estou tão deprimido, como posso ser feliz?
Jung de Miro e Von Darsê responderam-no com a suavidade drástica dos Bela-Parrachia :
- Como quereres ser feliz, enquanto procuras a felicidade de olhos vendados? Como podes comer se não tens a comida, onde plantar e nem ao menos o tempo para comer? Para ser feliz precisas antes de mais nada de tempo para ser feliz, precisaste ter o teu tempo para ti...enquanto teu tempo é roubado, não poderás encontrar a felicidade, precisas pois tomar o tempo de quem te rouba, tua majestade, teu senhor, tua religião ou tua política e após retomar a terra roubada que outrora foste tua, e hoje te negam com veemência.
Ai jaz a essência da felicidade, mas não só ai, se tua religião te aprisiona em vida ou em morte não podes ser feliz, precisastes na vida do gozo que outrora fostes pecaminoso, precisastes viver no mundo, para fora, e não se trancar em si mesmo, o orgasmo pleno de um ser se faz ai.
Von Darsê então lhe deu uma lição que o escravo jamais esqueceria :
- Seja livre mas não se esqueça, te prende um pouco também, não viva só como um animal, só pelos instintos, do mesmo modo que um pouco de veneno pode curar um envenenamento, um pouco de mal pode curar o mal da totalidade, vos é necessário um pouco de cada doença para que possas viver curado e não arriscar-se contaminar até a morte. Mas quando chegar tua hora terás de saber o momento certo de ficar doente e largar teus remédios, pois a doença é também uma cura.
Não se iluda com teóricos que lhe dizem que o tempo vai acabar, ou que começou por obra do divino, nem que o tempo é uma reta ou um circulo, o tempo é mais que simples teorias, o tempo não volta, o tempo não para, por isso precisastes da mudança, porque o tempo não vai acabar, mais vos um dia irá perecer, as ações humanas são infinitas porque infinitas são tuas idéias. Portanto não tema, retome teu tempo, retome teu espaço, retome tua vida, assim encontrarás, ou melhor, poderás encontrar a felicidade.

6- O Ritual da Autodestruição

Um dia de sol, as gramas estavam verdes em Swan-Tao, as pessoas já tinham aprendido não só a aceitar os Bela-Parrachia mas também a adorá-los, a maioria da população tornara-se Bela-Parrachiana e os que ainda se prendiam a neuroses e fobias começavam a desvirtuar aquela seita ou anti-seita que negava-se sendo. Criaram dogmas, verdade Parrachianas e começavam a dizer que só se chegaria a luz através do “ideal” Parrachiano.
Enquanto acontecia essa desvirtuação pálida dos Bela-Parrachia o jovem Khon-Hu olhava-se no espelho e conversava consigo mesmo:
- O que queremos? Era isso? Mais uma anestesia psíquica? Não, nunca foi e nunca será essa lastima, devemos negar toda verdade imortal e divina, devemos negar toda verdade imutável, devemos queimá-la ou devemos esperar que o tempo a queime?
Von Darsê que vinha passando não pode de deixar de escutar, escutou a conversa do jovem e chamou-lhe :
- Veja. (apontou para o sol e para as pessoas que ali trabalhavam).
- O que vê? – perguntava Darsê num tom melodioso.
O jovem Khon-Hu respondeu-lhe com sua percepção místicamente realista:
- Vejo pessoas que trabalham de dia, porque aprenderam que assim podem produzir mais e melhor. Nós não viemos aqui para ensinar-lhes o trabalho, contudo se tiverem duvidas, podemos reafirmar-lhes que o dia é melhor do que a noite.
- Sim, respondeu Darsê, contudo esqueceste de algo, esqueceste da noite, assim como no dia pode-se trabalhar, descansar e praticar o coito, a noite também é hora, a noite também é dia. Não deves prender-te a respostas tão superficiais como noite/dia,
verdade/mentira, bem e mau, a austeridade se torna a miséria de quem a prática, o maniqueismo do tirano.
Khon-Hu então correu para a praça e começou a fazer movimentos que ninguem podia compreender, deu um berro de fúria, um piso no chão de raiva, fez algumas caretas, e começou a dançar mexendo bastante a região pélvica. O que ele estava querendo? A maioria do povo olhava intrigado, alguns acusando-o de exibicionismo e falta de pudor, mas foi o sábio Arachimini um garoto de 13 anos que pode dizer aos intrigados cidadãos.
- Vocês estão cegos? Seus olhos estão tão fechados que não conseguem perceber a voz que sai dos movimentos? Ele está tentando mostrar-nos que a movimentação natural do corpo tanto pode trazer a tranqüilidade, a emoção, os sentimentos de volta, como nela não existe verdade, existe caos ordenado, existe vida, existe livre liberação de fluxo e não tentativas forçadas de tentar impor-lhes verdades como fazem. Ele dança como quer, faz o que quer, o que teu corpo quer e o que aprendeu e não nega o novo, jamais. Por isso ele não pode ser como aqueles que desejam tornar a beleza dos
Bela-Parrachia mais um túmulo como o Cristianismo, o Judaísmo, e essas auto sacrificações masoquistas.
Logo após o discurso flamejante do garoto, Jung de Miro foi a praça central da cidade conclamou o povo e disse :
- Vim dizer que nós Bela-Parrachia estamos partindo da cidade, porem antes de irmos proclamo a todos os Bela-Parrachianos a fazer o ritual da bola de gude sobre tudo que sabemos para que não nos tornemos jamais padres Parrachianos, essa aberração nunca existiu e não deve vir a ser. Deixemos que o devir entre em nossas vidas...
Então o povo Parrachiano voltou a sua essência lúdica, jogou bolas de gude, divertiu-se, dançou, comeu arroz e no final destrui qualquer vestígio de império e autoridade.

7- A Deriva e o Errantismo Parrachiano

“Vamos atravessar pontes
E de pontes para pontes
Assim urge nosso destino
Não ficaremos parados
Estagnados, esperando o acaso.
Não ficaremos parados
Com a faca na mão,
E a justiça no peito...nos matando a cada segundo.”

Os Bela-Parrachia então saíram de cidade de Swan-Tao e começaram seu caminho rumo aonde a beleza os levasse, é importante ter um objetivo, mas não para vida toda, todos objetivos devem cair para dar lugar a novos objetivos, para a vida não ficar rígida demais, assim como todas as localidades e condições de vida devem ser trocadas periodicamente para não se prender a um padrão de vida ou um padrão de ambiente, assim os Bela Parrachia construíam sua anti-sistemática, não confiando em verdades imutáveis, formava-se a deriva e a constante da revolução, o devir. Foi com essa convicção que os Parrachia saíram em direção aos desertos Árabes enfrentando condições climáticas para eles aterradoras, o perigo era tão constante que levou a muitos a superarem a si mesmos para enfrentar a morte. Agüentaram bravamente tanto o clima do local quanto o tempo (quando se diz tempo, está se referindo não só a condições climáticas e sim a duração do próprio dia e indo alem do próprio minuto). Após dias de truculência chegaram a um Oásis onde vivia um tribo, essa tribo defenderia sua localidade estratégica com a vida, eles detinham armas (lanças, escudos, arcos...) enquanto os Bela-Parrachia não tinham nenhum tipo de armamento bélico. Tudo insinuava que eram os últimos momentos de respiração dos bombeiros incendiários, mas os Bela-Parrachia possuíam uma grande arma escondida na manga, a revolução do gato amargo.
Aproximadamente 300 guerreiros armados partiram em direção aos cerca de 150 Parrachianos, eis então que a situação mudou, quem vive no mato aprende com o coelho. “ Nas ocasiões que tudo inspira temor, nada deves temer. Quando estiveres cercado de todos os perigos, não deves temer nenhum. Quando estiveres sem nenhum recurso, deves contar com todos. Quando fores surpreendido, surpreende o inimigo”
Sun Tzu foi um grande inspirador dos Bela-Parrachianos, e foi exatamente a sua mentalidade que o povo Bela-Parrachiano utilizou para revirar a situação.
Os Bela-Parrachia então começaram a dançar e comer arroz na frente dos 300 guerreiros tribais e como era de se esperar a chuva jorrou, o místico ar tomará conta do local, os 300 guerreiros acreditaram ser os Bela-Parrachias Deuses, enquanto eles eram apenas parte da natureza, melhor dizendo, não apenas parte, ele eram a natureza propriamente dita, assim como você e eu.
A partir dai os tribais juntaram-se aos Parrachia, começaram a adora-los, mais logo os Parrachia os demonstraram que não só eles eram Deuses, mostraram que todos os são. Aqueles dois povos à partir dali aprenderam muito mutuamente como bons seres humanos, ou bons Deuses. A magia da deriva, como a magia do errantismo trouxe aos Bela-Parrachia muito conhecimento, evolução, força e afetividades guardadas de todos os locais, alem da possibilidade de manter-se em constante movimento, o constante movimento da vida.

8 - A Virtude da Loucura (diário de Von Darse)

Durante as áridas caminhadas sobre desertos, florestas tropicais, vimos de tudo que se possa imaginar, até mesmo o inimaginável.
Aquele sonho que se tem a noite ou mesmo de dia, para nós era realidade, o sonho e o pesadelo eram-nos igualmente virtudes, pois da vida, eles faziam parte.
Passou-se neve e chuva, sol e seca, até que podemos encontrar uma das maiores dadivas que nos esperavam... Encontramos jovens nômades durante o trajeto e ficamos muito amigos daqueles eruditos, mas um deles se destacava demais, tanto por sua anti-sociabilidade, como pela sua magia, seu intelecto e sua honestidade vibrantes.
Conheci esse Santo enquanto ele conversava sozinho, achei inicialmente estranho tal fato, comecei a achar que tal homem possuíra poderes sobrenaturais alem da luz, mais tarde iria comprovar minha teoria. Resolvi perguntar então a alguns Nômades sobre tal estranha figura.
Contaram-me que ele era um caso realmente muito estranho, não se envolvia muito bem com os outros Nômades, principalmente os mais austeros que traziam a estase daquele povo. Estes nômades austeros e jactanciosos que odiavam o jovem estranho eram os mesmos que traziam a paralisação daquela sociedade e sem duvidas o diferencial entre os Bela-Parrachia e eles.
Eu resolvi então falar com o jovem que era conhecido como Iquiz Tao Hiad e descobriu no jovem tanto uma noite* imensa quanto uma sombra ardente, o jovem era honesto de uma maneira una, não continha a peste da falsidade e da mentira trazidos da rigidez das cidades falsas.
O jovem dizia com os olhos ao mesmo tempo tão distantes como tão próximos do mundo como é raro de ser ver :
- As cidades fantasmas querem roubar minha alma, dentre este povo existem desde as mais celebres pessoas, até os mais árduos tiranos, me chamam de louco, dizem que perdi minha cabeça, mais quem quer tirar minha cabeça são “eles” (claramente falava sobre mais de uma entidade). Os normais estão loucos, e agora querem dominar a “loucura” dos normais, assim ninguém irá atrapalha-los a deter o poder, por isso fugi para essa tribo nômade que me acolheu de braços abertos.
Chamavam-no de louco, mas loucura para Von Darsê** ainda não era de certo aquilo, compreendo que em tal jovem haviam coisas um tanto quanto assombrosas, parecia que ele tinha fugido do mundo, criado seus próprios significantes, tanto para as palavras, quanto para a vida em si mesma. Eu resolvi ajudar (ainda que com medo de
destruir-lhe a magia) aquele jovem, que apesar de tão honestamente inteligente, possuía uma angústia de uma tonelada ( se é que podemos medir os sentimentos.), mas não escreverei aqui como o ajudei, apenas quero relatar o meu encontro com o mais inteligente dos homens, mesmo porque foi o mais sábio e honesto deles.

* - Noite claramente no sentido de harmonia e beleza natural.
** - Aqui, falando sobre ele mesmo em terceira pessoa.

9 - Usando o Vivido, Não se Vive, se Usa.

Os Bela-Parrachia após o encontro com os Nômades partiram para a maior cidade de Oriente, ja Ocidentalizada a tempos, Bombain, lá puderam observar as pedras que se locomovem e ficaram impressionados, terrivelmente impressionados, viram pela primeira
vez uma cachoeira que não flui. As pedras andavam a seus objetivos tão superficiais como elas mesmas, azedas, imóveis e duras, duras como....pedras. Seus únicos objetivos (que elas próprias não sabiam) era manter o grande pedregulho que mantinha seus status de pedra. Os pássaros que ali viviam largaram tudo que era vida, eles não possuíam possuindo, a partir de agora, tudo que eles detinham não detendo em prol de transformar toda aquela vida em simples uso. Foi ai que a maldição travou-se sobre Bombain, todos os pássaros viraram pedras e o pior, não sabiam que eram pedras, e defenderiam a condição de pedras, aqueles que um dia ja foram pássaros. Tudo aquilo era demasiado triste, ver aquilo era quase que como transformar-se em estatua e estar morto também.
Os Bela-Parrachia estressados e perplexos sabiam que aquela era a maldição para aqueles que transformam suas vidas em epílogos, e começaram a gritar sem se preocupar com as pedras e seus pseudo-objetos de uso, CRIEM INTRODUÇÕES, PROLOGOS, VIVA O INICIO , O MEIO E PRINCIPALMENTE O FIM, NÃO O FIM COMO DESFECHO, JAMAIS O FIM
COMO CONCLUSÃO, MAS O FIM COMO A PERCEPÇÃO DO ETERNO ERRO!!!!
Enquanto berravam essas palavras, alguns vomitavam, outros praticavam o onanismo e gozavam, outros simplesmente cuspiam, outros respiravam com vontade e jogavam para fora todo ar velho, o fato era que todos demostravam o novo, todos mostravam o fluido da vida em oposição a estagnação e a reificação que os rochedos trouxeram.
Todos os Bela Parrachia viviam e mesmo que estivessem usando roupas, objetos, livros, eles viam tudo isso como vindo do mundo, melhor dizendo, tudo como participação do mundo e não objetos fragmentados, viam tudo como vindo e ainda presentes na terra, viam tudo como partes de si mesmos, viam a vida, eram ainda pássaros.
Enquanto os Bela-Parrachia viam tudo na vida, as pedras, viam tudo como objetos de uso, viam tudo até mesmo os animais como utilidades, tiravam suas características, tiravam suas vidas, fragmentavam tudo, transformando-os em objetos.

“ Se eu mantive-me inteiro até aqui,
O sonho, o sono, o despertar, não acabou
Aqui então viverei, aqui então morrerei
A energia fluiu, o mar de risos, de gritos,
De raiva, alegria, paixão, amor e ódio
Na noite ensolarada,
Tudo se vive, tudo é da terra,
A terra é de tudo, o cosmos, é tudo,
São de tudo, são de todos, são o tudo.
Somos nós. “

10 – A Raiva e os Sentimentos

Evitam a raiva PRISÃOSem Sentimentos
Tem amor  VIDA Tem raiva
Amor  HARMONIA  Ódio
Tensão  GOZO  Climax, Alivio
Sexo  MAGIARitual da Auto-Destruição

Antagonismos formam sinteses ? Paradoxos naturais ou natureza paradoxal ? Naturezas naturalistas, biopoliteistas ateus do devir?
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A quebra do equilibrio.

Estavamos numa floresta, realmente alegres em nossa caminhada errante escutando o ancião Jung de Miro que contava-nos historias na roda que se formara entre a fogueira e o vinho.
- A muito, muito tempo, existia um povo que não sabia rir, esse povo era dominador, tinham lanças que cuspiam fogo*, guerreiros montados em criaturas rapidas como dragões. Este povo era terrivel, rangiam os dentes de tão angustiados, tinham os braços rigidos e os olhos sem expressão. Tornaram a terra das tribos daquela floresta puro fogo, pura lama, mataram todos animais e faziam panos com a pele desses animais para vestirem-se e mostrarem seu status.
- Eles sabiam matar, eles sabiam dominar, mas nem ao menos sabiam o que eram os sentimentos, a muito ja tinha se perdido disso, sabiam matar, sabiam destruir. Um dia um desses guerreiros insensíveis encontrou um menino Bela-Parrachiano e perguntou : Onde estão os guerreiros Parrachianos? Enquanto olhava tenso para todos os lados e suas mãos suavam rígidas como pedras segurando a lança que cospe
fogo.
- Eles estão como de custume brincando, tomando chá, vinho, fumando, fazendo sexo, dançando ou caçando, aqui tudo é alegria e tristeza, todos os sentimentos fazem parte de nossa vida, sabemos que negar um sentimento é negar a todos, mas porque deseja saber? Deseja se divertir conosco? Venha, venha! O garoto que antes fazia malabarismo então deu as três maças que segurava ao guerreiro e disse: "venha brinque comigo."
Nesse momento o mundo parou, o guerreiro olhou com os olhos lacrimejando, parecia que toda aquela sua defesa, toda aquela barreira que o impedia de comunicar-lhe com o mundo havia sido quebrada ali, por um simples menino, por simples bolas de malabarismo. O céu refletiu o pranto e a chuva jorrou, jorrou tão bela quanto a inocência daquele menino que transformara uma lagarta em uma borboleta. O guerreiro então lhe disse:
- Por favor menino, seja meu mestre, ensine-me a sentir novamente, isso é a melhor coisa que poderia ter me acontecido, não quero mais viver a austeridade, deixe-me tornar um Bela-Parrachia.
Deve aprender então a raiva, pois a tristeza é tão linda como a alegria, o que sente dos que fizeram de tua vida uma prisão? O que sente com relação a aqueles que matam e destroem todos os sentimentos, todos os povos que destroem a harmonia com a natureza, pois se alienam da vida, o que sente?
Uma fúria incontrolavel tomou conta do guerreiro que começou a chutar uma arvore ao lado e soca-la, seu choro não caia mais do céu e sim de seus olhos, a vida pela primeira vez transpareceu para o guerreiro que gritou :
- O QUE ERA A ORDEM QUE ME IMPUNHAM ? NÃO ERA PODRIDÃO E MORALISMO LASTIMAVEL ? ME DERAM A MORTE E FALARAM QUE ERA VIDA, HOJE OS ÓDEIO!
O guerreiro então sentou-se e começou a meditar, meditava não interiorizando o ódio e sim exteriorizando-se e entrando em contato com o mundo real, tornava-se ali parte da natureza, tornara-se ali um Bela-Parrachia.
Após o ódio o guerreiro pode compreender também o amor, pode compreender todos os sentimentos que a vida traz, pode compreender a própria vida. O guerreiro então agradeceu muito o menino e partiu com sua missão de trazer de volta a vida para seu povo natal. Reza a lenda que ele conseguiu, e todo seu povo hoje vive em montanhas
isolados em contato com os animais e a floresta.

* Acho que aqui fica claro a clarividência e os deja-vus dos Bela-Parrachia, indo alem, fica claro a superação do tempo pela psique Parrachiana.

11 – A Família Parrachiana e a Guerra da Doença Contra a Natureza

“A família, tão consagrada instituição, tão famigerada relíquia, passando tradições, contradizendo emoções, limitando relações.” Lyn Myhn. 37 d.l (depois de Lyn)

Morte!!! Pecadores!!!!! Gritava enfurecida uma multidão de religiosos que corriam atrás dos Bela-Parrachia... Tudo começou quando os Bela-Parrachia resolveram acampar um tempo, bem próximo a uma cidade religiosa, a grande questão que gerou o conflito entre esses dois povos, foi justamente a questão sexual e familiar.
A família Parrachiana não continha os padrões monogamicos, rígidos, culturalmente tradicionais assim como os desse povo “religioso”, mesmo porque o Deus da religião que condenara os Bela-Parrachia era um Deus assexuado (e a sexualidade para aquele povo se resumia a procriação), e os deuses e deusas Bela-Parrachianos, sempre morrendo e dando lugar a outros (ou não) eram em grande parte altamente sexuados e altamente diversos, entre eles existiam deuses (e Deuses) assexuados, poligamicos, monogamicos, heterossexuais, bissexuais, etc..(entre eles animais, Deusas, deuses que não eram seres, energias...), poderia-se até considerar que toda a natureza era a
deusa desse povo.
Dessa forma a família Parrachiana não existia como fragmentação social, existia como totalidade popular e natural. Se formos considerar uma família Parrachiana, deveríamos considerar todos os adultos como pais e todas mulheres como mães, as crianças recebiam educação de todos, principalmente dos mais velhos, assim como muitas tribos indígenas que foram influenciadas místicamente e atemporalmente pelos Bela-Parrachia.
Após a ardida fuga do povo Parrachiano pelas florestas de Swe’rohw, o povo Parrachiano ainda estava confuso sobre o que aconteceu e conversavam sobre o fato :
Kohn Hu : “ Perigo, incompreensão do amigo, então apontou uma arvore caída sobre diversas plantas (a arvore tivera matado as plantas).”
O que devemos fazer? Lutar ou fugir? A terra deveria ser de todos, mais eles a tomaram, nos atacaram simplesmente porque alguns de nós faziam sexo no meio da praça, que fica no nosso próprio acampamento.
Von Darsê : "Kohn Hu, a praça não é nossa, é deles e de todos, eles querem nos impor suas leis, eles querem nos impor suas tradições, acusaste-os de derrubar arvores sobre plantas, inferiste-nos de uma pequenez ilusória. Eu compreendo que eles dominam o seu próprio povo através de sua família e de suas leis, mas escute-me, nos não somos libertadores, os maiores libertadores sempre foram os maiores opressores, se querem acabar com o domínio devem fazer isso com as próprias asas, se aquela febre patológica voltar a nos assombrar, nos defenderemos com nossos remédios."

“ A prisão da família,
sentida na pele,
sentida a ferida.
Os olhos brilhavam,
enquanto descobria a vida,
Mais tudo aquilo lhe foi negado,
o mundo lhe foi roubado
Pobre garoto,
que hoje esconde o que quer,
Descobriu a felicidade na família Parrachiana,
Descobriu a liberdade,
descobriu a amizade,
Descobriu que tudo é de todos,
e todos são o tudo,
Descobriu que tudo é parte,
Daquela maravilha,
que se chama mundo.”
Kohn Hu, 23 d.k

12 – A Maldição que Salvou Vidas. (diário de Von Darse)

Escuto um esporro, mas não aguço minha neurose, entro em contato com o silencio esperando a cada vão o respaldo das ondas de som, que adentrariam meu ouvido caso fosse necessário. Meu ouvido como o de uma águia capta a maldição, alguém, algo, teria nos amaldiçoado, eu ainda não pude saber o porque, ainda não pude prever e prevenir, só sabia que meu povo estava doente.
Porque? perguntava a Deusa Éris, porque teriam os Deuses cometido tal ato? xinguei-os, não pude evitar, não importava, estaria selado nosso destino? Seria esse o grande fim que nós aguardava? Não podia acreditar, comecei a chorar diante da chuva que completava o clima de instabilidade, a chuva caia como que me corroendo, era tão acida, era o reflexo de minha dor.
- Ei, Porque choras meu jovem? – Perguntou um senhor que passava.
- Não posso evitar, meu povo está doente, grande parte esta com perigo real de vida, só o que fazem é ler, comer e dormir, mal conseguem se locomover. Nosso povo sempre foi andarilho, sempre foi atlético e nunca nenhuma doença nos assombrou com tal intensidade. – respondi com voz mórbida
- Então o que estás fazendo a chorar? Procuraste a cura pro teu choro e de teu povo? Nenhum Deus comanda nada, olhe para natureza, observe como ela se locomove, Gaia*, é assim que a chamamos em minha terra. – disse-me o velho que tinha os olhos indiscritivelmente profundos.
- Você tem toda razão, muito obrigado.
Agradeci-o e parti rapidamente com uma parte do grupo que ainda não estava doente a procura de cura, mas o mais interessante foi observar que quem descobriu a cura para doença foram os próprios doentes que estavam a ler bastante, como única atividade que eles poderiam realizar.
Depois de uma pequena busca podemos encontrar os remédios para os doentes e cura-los, e incrivelmente saímos daquela “maldição” vigorosamente mais fortes, a nossa informação havia crescido, conhecíamos agora melhor as curas e as próprias doenças e felizmente não houve preços para isso. Jamais pagaríamos um preço alto para nós
trazer tais informações, ou tecnologias, como as pedras as chamam, jamais seriamos cruéis como as pedras de sacrificar vidas por tais tecnologias, mesmo porque estas nos trazem informação, o que é bom, porem não nos trazem o mais importante, que é a felicidade e harmonia de nosso povo.
Mais tarde só que Von Darsê** foi saber que o velho que lhe falará era o famoso e hermético Dan Ki Chopper***, um santo ateu que grassava pelas cidades mostrando o mundo para os que se atolam em metafísicas e esquecem de viver.

* - Aqui fica claro de onde surgiram as teorias de Gaia que só hoje são reconhecidas, iniciadas com o mestre Dan Ki Chopper
** - Novamente Von Darsê usa seu nome em terceira pessoa.
*** - Dan Ki Chopper alem de santo ateu foi o criador de uma técnica oriental de concentração que é utilizada até hoje.

13 – O Mapa da Felicidade (diário de Kohn Hu)

Onde está ela que todos procuram? Onde está a Deusa, o mar, a luz e a razão da vida? Onde está a felicidade?
O céu caiu sobre as flores que murcharam, o céu se abriu e as flores levantaram, onde está a felicidade? Onde está a felicidade? No levantar da pétala? Ou no murchar da dádiva colorida da Deusa?
Resplandece-me os olhos tanto a morte quanto a vida, tanto o inicio como o final e igualmente o decurso. Onde desses itens estará a felicidade? Em si mesmo, na alma ou na sociedade, no barco ou na viagem? No mar ou na terra? Na certeza ou na duvida?
Resolvi perguntar ao mestre Von Darsê onde poderia encontrar a felicidade, e se eu fosse ajudar as pessoas a encontra-la, para onde eu deveria apontar.
- Von Darsê, preciso de uma resposta, onde posso encontrar a felicidade?
Perguntei-o
- Estais triste? Não encontrastes vossa musa?
- Não. Estou feliz, sei que me tornei feliz quando vim pra ca, antes eu era muito triste, então a felicidade se encontra onde vivemos e como vivemos?
- Talvez, o que achas?
- Não sei ao certo, porque apesar dos pesares em minha antiga terra haviam pessoas felizes, é realmente muito estranho, existem pessoas felizes em tantos lugares. Na minha antiga terra sempre diziam que felicidade era encontrada na raiz do coqueiro, mais eu nunca vi felicidade ali, na raiz do coqueiro. Porventura eu a encontrei nos
cocos e não na raiz do coqueiro. Sinto-me confuso, acho que a felicidade não está em nenhum lugar definido e sim onde cada pessoa possa encontra-la de acordo com sua formação histórica e intelectual.
- Talvez, vossa opinião é sabia, assim como a verdade não é una, a felicidade pode encontrar-se tanto no raiz do coqueiro, como no próprio coco, na queda do coqueiro, e mesmo a própria tristeza pode encontrar-se nos mesmos lugares que a felicidade. Porem é necessário dizer-vos que existem coisas que podem trazer doenças e limitar ou
mesmo destruir qualquer possibilidade de felicidade. Não deveis deixar de lado vossas necessidades e as de teu corpo, porque tua religião ou tua política te prendem, isso se queres ser feliz. Não devemos colocar a felicidade num pilar e criar teorias para alcança-la, devemos vive-la.
E assim disse Von Darsê, influenciado pelo espírito místico de Ninguém, espírito esse que influenciou muito os Bela-Parrachia. Mais não vou me adentrar nesse sacro santo nesse momento. Eu pude compreender a felicidade, que tantos procuraram sem querer encontrar. Muitos da minha antiga cidade diziam procura-la mais estavam a todo tempo se punindo, como querer encontrar a felicidade na punição, na dor e na amargura? A doença ja defecara naquele local, e seu povo esta doente demais para perceber “a praga”.

“A felicidade do velho coelho,
Jamais se traduziu em palavras
Era vista em gestos, doces lagrimas
Que caiam, subindo ao céu
A doença, a praga não lhe acometera
A sua cachoeira não era paralisia,
Era fluxo, vida, nunca hipocondria
A própria vida era felicidade, e tristeza
O mundo inteiro era sua vaidade
Que se entrelaçava nas arvores da verdade
Não tinha lar, não tinha medo,
Tudo era teu, nunca em segredo
Teus muitos filhos brincavam
Teus e de todo povo
O sol brilhava
Também a lua,
Na floresta o povo sentia,
Amor”
Kohn Hu

14 – A Vida dos Gansos e o Culto ao Lúdico

A vida dos gansos Parrachianos “sempre” foi a marca do júbilo e do culto ao lúdico, e por isso, talvez, as árduas críticas por povos que “necessitavam” (ou simplesmente queriam) que o trabalho fosse cultuado e mistificado como algo sagrado, nobre, onde invertiam as relações de dominação teoricamente. A realidade desses povos contudo como ja lhes disse, é exatamente o inverso, o proprietário que não trabalha (ou trabalha menos, superficialmente..) é o nobre, ja o camponês que trabalha arduamente acometido pela peste trabalhista é o pobre e o escravo.
Os gansos Parrachianos então renegavam o trabalho trabalhando, a questão para eles era, o que é o trabalho? Se o trabalho é obrigação, se trabalho é imposição, se o trabalho é chatice, se teu trabalho é usado contra ti ou roubado de ti, se o trabalho é evolução para os donos do poder, devemos amaldiçoa-lo, abomina-lo, destrui-lo, agora se teu trabalho é diversão, felicidade, superação, evolução, mobilidade, expressão e mesmo tristeza pode-se ou mesmo deve-se ama-lo.
A vida dos gansos Parrachianos era lotada de diversões, entre elas um jogo onde usavam uma bola e com os pés devia-se ludibriar o adversário*, esse jogo cabalístico foi inventado por um ganso Parrachiano chamado Ganso Goiano ou G.G.Elder, essas diversões tinham fim em si próprias contudo eram também rituais místicos.
O trabalho para eles não era “trabalho” pois detinha essa conotação de diversão, alegria, brincadeira, etc.. portanto mesmo quando procurando, produzindo coisas essenciais os gansos Parrachianos faziam jogos, por exemplo : quando tinham que caçar disputavam quem conseguiria abater primeiro um animal, então iam se divertindo.
Na sociedade dos gansos Parrachianos não existia propriedade, era como um anarquismo primitivo, ressaltando novamente que nada era trocado, vendido, negociado, usado, tudo era vivido e pertencia a todos, não porque tudo era distribuído e sim porque tudo era da natureza, mesmo o modificado pelo homem era em essência natural, assim como os próprios homens, portanto tudo era de todos mesmo sem haver uma conceituação disso.
No errantismo Parrachiano não havia lugar para lideres, somente em casos de guerra ou real perigo de sobrevivência, como pragas os mais sábios ou mais velhos assumiam uma postura de organização ou coordenação da comunidade Parrachiana e assim que a guerra, ou peste sumissem esses “lideres” eram depostos e assim vivam os gansos Parrachianos e assim Parrachiavam os gansos vividos.

“Livros a ler, trabalho a fazer, diversão a acometer, vida a decorrer, Saúde a vencer, mente a voar, pássaros a cantar, arvores a viver, morrer, respirar, sementes a brotar, bebes a nascer e verdades a transgredir”

* - essa prática foi fulminar no futebol moderno.

15 – Sobre o Suicídio Místico

Trevas, escuridão, as gramas submersas na água escura naquele pequeno alagamento, apenas uma planta tinha força para se manter em pé e em estado deplorável, se antes tivesse morrido a desgraçada. O que fazia de pé? Deveria ter morrido, faz parte do fluxo da vida, faz parte da própria existência.
A verdade absoluta sempre foi vista como desgraça para os Parrachianos, isso não é segredo para ninguém, simplesmente é vista com desdém. A planta velha que não morre, deve morrer, deve deixar que as novas plantas triunfem, deveria permitir sempre a renovação.
Começou a estranha história num árduo dia de chuva, nos primórdios Parrachianos, uma tempestade terrível atolará tanto os pés quanto a mente de alguns Bela-Parrachia. Em todo esse “caos” na tribo, alguns Parrachianos resolveram “tomar conta da situação” e começaram a criar mitos e autoridades, começaram a resplandecerem-se como
salvadores.
Observando abertamente a situação, diversos Parrachianos entre eles Von Darsê, Jung de Miro, Kohn-Hu, entre outros resolveram intervir e chamaram todos os Parrachianos e demonstraram o fato, os próprios suspeitos concordaram com a suspeita e admitiram estar fazendo aquilo. Deveria a comunidade chegar a uma conclusão de como combater
o vicio do narcisismo, a exaltação do nome, o desejo de entrar para história Parrachiana.
Essa situação incrivelmente foi tomar um rumo bem parecido com o ritual de autodestruição, incrivelmente a superação do narcisismo.
(diário de Von Darsê)
- Andávamos pela floresta de Macatú, Hujará (um dos “narcisistas”), Jung de Miro e eu, estávamos a procura de respostas, tanto mentais quanto da resolução dos problemas da enchente. Espreitando a escuridão e o medo escuto um berro :
AREIA MOVEDIÇA, CUIDADO!!
Afastei-me e olhei com cuidado, era Hujará, com sua face pálida, encolhia-se como um verme com um terrível medo da situação, contudo, quando fomos ajuda-lo nos disse com árduas palavras
– deixe-me, irei me libertar sozinho – eu via o estopim da situação, o narcisismo
máximo, o limiar entre o narcisismo e a separação do mundo, a angustia pura.
- Deixe-nos ajuda-lo Hujará, de que vale todo essa egolatria? Não é isso imundice e pequenez? O grande homem se faz na vida e não precisa deixar marcas, não precisa de monumentos, ele é grande, ele foi grande, não precisa e nem quer provar isso a ninguém.
Hujará nos escutou e sorriu, ajudem-me gritou o homem, gritou o menino, gritou o idoso, não importa a idade, Hujará foi sabiamente inocente. Nos o ajudamos, ele saiu da areia movediça... e começamos a refletir juntos sobre o que tinha acontecido.
- Como podemos acabar com esse narcisismo? Alias, como podemos diminui-lo? Como podemos fazer que as pessoas queiram crescer por elas, e não para um futuro ilusório, e não só para “imortalizar-se” – perguntou Jung de Miro
- Qual o mecanismo que as permite tal vontade de “imortalizar-se” – perguntei-os e a resposta veio dos dois ao mesmo tempo.
- É o nome, responderam confusos
- Então ai está, derrubem o nome e estarão derrubando também a identidade imortal, a autoridade, o ídolo e o estigmatizado.
- Mais não estaremos deixando assim de sermos nos mesmos? argumentou sabiamente Hujará
- Você é seu nome ou você é o que vive? Você é palavra ou você é mundo? Respondi-o
- Tem razão Darsê, mais o nome facilita a comunicação, talvez fosse mais sábio a troca após um tempo.
- Sabia opinião, estou de acordo.
Então voltamos a aldeia e discutimos com as pessoas da tribo e no final todos concordaram com a idéia, conversamos bastante, tomando muito chá, comendo maças, dançando, gritando, rindo...tudo era motivo de festa para nós, a vida era festa, a tristeza era festa, o amor é lindo, o ódio necessário, então após a nossa esplendida
confraternização juntamo-nos e mudamos de nome, simplesmente assim.
Neste momento então o céu abriu, o chuva parou, a volúpia tomou conta de todos, era lindo, as gotas de água caiam lentamente das plantas refletindo os sorrisos das pessoas, o arco-íris surgiu e resplandeceu as lagrimas que corriam o rosto de alguns, era O NOVO NASCER DA VIDA, um segundo parto, uma segunda vida, e desde então fazemos o suicídio místico de tempos em tempos.

16- Epilogo ( Diário de Von Darsê )

Importa-se? É tudo isso verossímil? Meu diário uma farsa? Nossa seita uma ameaça? Um mito, um santo, um Deus, um pranto? Sim, talvez seja tudo uma mentira, importa-se? Exporta-se? Não importa se sua verdade é real, ou uma ilusão, uma mentira. Nos continuamos a existir, na mente de quem for demente, o louco gênio que não pode ser compreendido por quem não se sublevar contra a normalidade, o homo normallis, a autoridade, o rei, o papa, a mitologia.
Iremos continuar por ai a fora, matando deuses, criando mitos, construindo alicerces e os quebrando, continuaremos a jornada da vida, evoluindo, desiludindo, disseminando o fogo e a chuva.
Importa-se? Exporta-se?
Ao seu lado estará um Bela-Parrachia, ao teu lado estará a vida e a morte, sem medo, com medo, sentindo a vida mesmo que com dor, com coragem. Daqui a 1800 anos, estarei ao teu lado para destruir a ordem, causar o caos harmônico, estarei ao teu lado para trazer o novo, o devir, porque? Porque nos somos imortais. Porque a Deusa Éris está ao nosso lado, porque Jesus ja foi um de nossos guias porém ja o quebramos, melhor, ja quebramos parte de suas idéias, ja não está mais entre nós. E você homo normallis, importa-se? Teu trieb* está morto, da demasiado valor a mentira, a falsidade e a irracionalidade, está é a sociedade que estais a criar, o aviso ja foi dado pelos Deuses, pelos Gansos, a natureza ja se rebela contra ti, um segundo mais, um segundo mais, o tempo gira e você não muda, gira, gira, gira, gira, gira.
Mate-se homem, mate-se mulher, crie um pouco de esperança, VA LER, VA VIVER, CANTE, DANÇE, não tenha medo dos outros, não tenha medo do Outro. Sente-se e medite, sente-se e suicide-se, viva uma nova vida, seja outra pessoa. SEJA VOCÊ!

“ revivere, revigorum semper”
* Trieb – Instinto

Tradução e Seleção de textos: Fernando R.

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