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no principio era a roda
e
a roda criou, em seis dias e seis noites
a bicicleta
no sétimo dia, a roda, descansou.
segundo o teólogo ommar, o culto da roda (logo da bicicleta) é um culto lunar.
no entanto outros iluminados, de influência ocidental, defendem ser o culto impregnado de ritos fálicos. solares, portanto.
o facto das rodas velocipédicas possuírem raios e, muitas vezes, se levantarem questões que se prendem com a estética do selim…
são estas, talvez, as bases da fundamentação dos doutos teólogos…
de qualquer forma a fé na roda e seus doze discípulos que constituem a unidade velocipédica, é fundamental para a consolidação da nossa crença.
passemos ao âmago da questão:
o kaos gerou a roda
e
a roda
gerou os raios
e
gerou as manetes
o garfo
o quadro
o selim
a cremalheira
a corrente
o volante
os pedais
os guarda lamas
a campainha
e
a roda pedaleira.
estes, os discípulos - não, de todo, apóstolos. a nossa fé não será jamais apostólica - e eles são o todo.
a unidade.
a deusa criadora e criativa.
enfim…
a bicicleta.
bom.
a bicicleta está em toda a parte. presente. omnipresente.
e
muitos são os seus nomes - mas o seu verdadeiro nome jamais será pronunciado.
DOS SACERDOTES E CORPO LITÚRGICO
os nossos ritos são nocturnos e guiados pela sabedoria do grão (também conhecido pelo nome de grão da alfarroba).
grão da alfarroba porque é o detentor da grande sabedoria e, a sabedoria, tal como o conhecimento dos mistérios velocipédicos estão encarcerados no interior da vagem da alfarroba.
o grão tomou conhecimento desta realidade quando, à sombra de uma alfarrobeira perdeu a virgindade.
o grão não é pois - de todo - virgem. os nossos sacerdotes tão pouco o são.
daí que os nossos cultos lunares sejam muitas vezes influenciados por cultos fálicos.
logo; somos uma religião equilibrada, pura, natural
e
etc. & tal
O SEGREDO REVELADO
Muito se tem escrito, falado, especulado, sobre a questão de a Bicicleta ser o verdadeiro Oito, símbolo claro do infinito. E de o Triciclo ser a figura terrena do Oitenta. Vamos clarificar o assunto, descriptar de uma vez por todas o misterio magnum que muitos pensadores, de maneira inteiramente artificial e abstracta, falha de realidade, têm tentado - com que nebulosas intenções? - colar no selim, digamos assim, destes dois bípedes que não são tão maquinais nem animais como alguns querem fazer crer.
O primeiro autor, desnecessariamente pós-moderno, que se debruçou em cima das concepções velocipédicas, da forma nebulosa e entaramelada philosóficamente que lhe era própria, foi o antigo pensador pedestre Edmundo Pedal Carmelo, que numa série, hoje felizmente já esquecida, de trechinhos dados a lume no vespertino “O Chasso”, tentou apresentar a Bicicleta como uma emanação secundária do caldaico Carrinho de Mão, ou mesmo da egípcia Cadeira de Rodas.
Nada mais falso. Nada mais ridículo. Se assim fôsse, como encarar o seu rebento Triciclo? Como uma espécie de composição a partir da grega Trotinete? Por este exemplo se vê quanto o pensamento daquele locubrador era esquipático e inteiramente irrazoável.
A seguir veio um outro cicrano tentar a sua sorte especulativa: refiro-me a Eduardo Guiador, que se pretendeu apresentar como uma espécie de guru dos que nos tempos modernos tentavam de forma aleatória entrar arbitrariamente na Volta a Portugal e mesmo no Tour de France. Este, no tom entre o melífluo e o titubeante que o caracterizava, saiu-se com esta proposição inteiramente estapafúrdia, salvo melhor opinião: “A Bicicleta tem características de tal forma estranhas que, entre nós, mais tarde ou mais cedo alguém lhe colocará um motor a gasolina. Defendo a tese de que, por cá, uma bicicleta terá de ser sempre uma Motocicleta, não temos categoria para mais!”.
A desmentir o raciocinador em apreço, que neste postulado mostrou a sua “falta de pedalada”, verificou-se logo de seguida a entrada em cena do Tandém, geralmente impulsionado por três ou mais entusiastas da circulação adequada. Precisamos de outro exemplo para provar que o indivíduo a que nos reportamos mais uma vez, como sempre, viu curto e viu mal?
Porque a Verdade, verdadinha e sem confusões, é esta: a Bicicleta, o Triciclo e, por último, o Tandém formam uma unidade trina, especular, material e espiritual, absolutamente consistente e inteiramente para além das côxas filosofias dos que não têm verdadeira pedalada que os leve na direcção da Realidade (pedalam em seco).
A Santa Milha seja convosco.
Frei Agostinho D’Etapas
Aparição de nossa senhora das bicicletas
Aparição
Aparição
Aparição
Aparição
podemos dizer que é falsa (a aparição)?
a tradição e metodologia discordiana afirma que “todas as afirmações o são (quase sempre)”.
porém poderemos afirmar que “tudo”. tudo é falso.
uma pergunta é uma afirmação?
sendo que sim, a aparição é falsa. uma falsa aparição, ou talvez não.
se perguntarmos: a sra. das bicicletas apareceu a 5 pastores?
a resposta será: sim.
se perguntares: a sra. das bicicletas não apareceu a 5 pastores?
a resposta será: não.
a escolha é tua! pergunta e verás.
Ela. a nossa senhora das bicicletas ou “a ciclista mor” é uma contradição?
é uma “perda de tempo”?
ela realmente existe?
e
é de facto uma mulher?
- sim.
será um efebo?
- claro que sim.
não vos preocupeis. tende fé! a outra, a de fátima, também não existe e já tem um templo altamente comercial.
vamos construir um templo para a sra. das bicicletas!…
ainda que virtual, ela merece.
como alguém disse: a tradição discordiana insiste que todas as combinações são possíveis para “verdadeiro, falso e irrelevante”. combinações, essas, que dispensamos neste momento…
sob pena deste documento ser considerado irrelevante. e logo hoje - 13 de maio.
Armas de sedução maciça
Em 1943, o químico Dr. Albert Hoffman, após uma viagem de bicicleta entre o seu laboratório e a sua casa escreveu nos seus diários: “voltei a casa de bicicleta envolto por uma estranha inquietude e uma persistente embriaguez ao nível da consciência. Era uma sensação nada desagradável de intoxicação que mantinha a imaginação extremamente estimulada. Pude então observar uma torrente de figuras caleidoscópicas de todas as cores ganhando formas fantásticas durante o caminho”.
Uma viagem de bicicleta pode ser uma experincia alucinante…É preciso ter cuidado com este instrumento do Demo com propriedades alucinogénias que parece intoxicar a mente, distorcer a realidade e estimular a imaginação… o facto de momentos antes o Dr. Hoffman ter descoberto e experimentado um composto químico, o qual denominou de LSD-25, É uma mera coincidncia sem relevância. A culpa É da Bicicleta.
Na Idade Média as bruxas recorriam à planta “mandrágora” para fazer as suas poções e contactar com o demónio. Aliás, as propriedades alucinogénias da Mandrágora são bem conhecidas. Aqui, a culpa é mesmo da Mandrágora. Outro instrumento do Demo.
Entre Mandrágoras e Bicicletas plantamos ilusões, enraizamos o sonho e regamos a intoxicação cultural da mente. Estranho apenas que em 25 anos de actividade cultural ainda não tenhamos sido detidos pelas forças da ordem. É que somos uma associação terrivelmente perigosa… temos armas de sedução maciça que utilizamos em cada espectáculo, em cada performance, em cada publicação…
Bruno Vilão
(in: edição de “Bicicleta” - número comemorativo do 25º aniversário de MandrágorA)
http://fundacaovelocipedica.wordpress.com/
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Um comentário:
Muito bom! :D
Fnórdico, gostei pedálicamente.
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