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3.6.08

Benditos plágios malfeitos

Se os surrealistas portugueses escreveram no seu tempo “não somos originais”, nós, hoje, seremos certamente muito menos. Mas não será por receio da exposição à crítica e ao plágio que nos toldarão os sentidos. Da nossa inquietação mental e fleumático pretensiosismo, impõe-se a procura de rasgar a barreira da mediocridade consciente, propiciadora de espartilhos mentais e de encarceramentos racionais.
No Manifesto Surrealista, André Breton postulou o automatismo psíquico, a necessidade de libertação do acto criativo das amarras da consciência e da razão. Como inóspitos plagiadores, apostamos na fluência desimpedida do inconsciente, na capacidade de criar imagens soltas, desencontradas, reveladoras de um universo onírico escondido nas entranhas da consciência.
E por não sabermos igualmente, como Mário Cesariny de Vasconcelos, se fodemos tudo ou se tudo nos fode, impomos uma orgia mental pautada por uma ideologia poética e por uma alucinada experimentação intelectual.
Revoltamo-nos pela pureza dilacerada, pelo magnetismo oprimido, pela irreverência original perdida de que se reveste a nossa natureza individual, e contra a ansiedade contida, ironicamente oferecida pela domesticação do EU único, do Eu puro, do Eu natural, submetido a cada cruel instante à apreciação da imagem do Eu ideal.
Superando as tensões e as máscaras sociais impostas, procuramos atingir e expressar a transparência do sonho nos palcos, nas telas, na tinta sobre o papel… Insurgimo-nos também contra a submissão às normas estabelecidas e proclamamos a omnipotência, a superioridade do sonho e do inconsciente sobre o real, o desregramento de todos os sentidos.
E como plagiar não custa, ambicionamos ainda a desconstrução da forma e a potencialização do imaginário.
Pois tal como Breton, “Não será o medo da loucura que nos forçará a arrear a bandeira da imaginação”.

Bruno Vilão
Revista Bicicleta Nº 9

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