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Parte 1
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Diante do paradoxo e da indivisibilidade da vida, com seus pares de opostos, outros autores assinalam a ambivalência do riso, que este pode ter como fonte uma dor, uma defesa, um temor, mas ao mesmo tempo uma sabedoria. H. Adorno já afirmou que o riso sereno ou terrível marca sempre o momento em que desaparece um temor. Afirmou Platão, em A República, que ”um acesso excessivo de riso quase sempre produz uma reação violenta” (ibidem, p.4). De fato, ainda é difícil definir o senso de humor, embora Shopenhauer já tenha afirmado que a única qualidade divina de um homem era o seu senso de humor. Por outro lado, sabemos que o ser humano é um ser lúdico, ele é apenas completamente humano quando está brincando, um importante anseio humano é o de jogar.
Mas, o que significa o humor? Indicando algo que flui, líquido, a palavra “humor” simboliza também o movimento de forças inconscientes que gradualmente se desenvolvem, porém o “senso de humor” em si pode se originar no senso de proporção das partes com o todo, tanto no mundo externo como interno. Para haver senso de humor maduro deverá haver, além do riso, consciência e afetividade. Charles Williams, no seu livro All Hallow’s eve (apud Luke, 1992, p.16) considerava que “aqueles que apreciam e compreendem, penetram no riso, no coração das coisas. A humildade está intimamente relacionada com senso de humor”. Há muitos tipos de riso, ele pode ocultar uma rejeição destrutiva ou o desprezo, e quando nos rendemos a isto perdemos o senso de humor, que sempre fortalece a compaixão, onde todas as nossas dores e alegrias se tornam inteiras. Ressentimentos, humilhações, culpas, etc. podem ser aceitos com dor e conhecidos também como ocasiões para o riso que cura.
Ainda segundo Williams, no meio da dor emocional é importante manter o senso de humor sobre a própria importância e a dos outros, com a intenção de alegria. Quando nos sentimos absolutamente comuns, adquirimos a simplicidade e o senso de humor; assim, poderemos começar a brincar na liberdade e na simplicidade da criança, poderemos alcançar a filosofia do momento, também defendida por J. L. Moreno, e vivermos no aqui e agora, com o espírito presente em cada momento, sabendo o que realmente se é.
Quando Jesus Cristo diz que “aquele que não receber o reino de Deus como uma criança pequena, nele não entrará” (São Marcos, 10:15), estava se referindo a esta sabedoria divina do riso. Jung considerava que, além da ética essencial, além da beleza da ciência, filosofia, psicologia e teologia, além de todos os esforços da humanidade para compreender o bem e o mal, ainda restava uma porta final para encontrar a liberdade: o caminho para a brincadeira espontânea, não imatura, mas inocente, do espírito feminino. Segundo Luke (1992, p. 17), sem isto não haverá “qualquer criação que conheça a eternidade, depois da longa jornada de retorno, na dimensão do tempo. Ela está e sempre esteve brincando no mundo, na alegria da Criança escondida em cada um de nós”. É quando se encontra a liberdade de todas as convenções e não se importa mais em mostrar as deficiências, como um palhaço. O Tolo ou a Criança dentro de nós nunca é ingênua, pois é a própria sabedoria brincando no mundo.
J. L. Moreno, por sua vez, acreditava nesta criança eterna e livre que deveria ser despertada, com sua centelha divina da espontaneidade, desenvolvendo seu método para trabalhar o acesso a este senso de humor, a este riso, a esta alegria, esta criança livre do aprisionamento das conservas culturais. Ao trabalhar numa realidade suplementar, Moreno valorizava o poder do mágico, do ilusionista, da liberdade transformista de multiplicar formas e possibilidades, produtora de mundos impensados. Neste ponto, afirmamos que Moreno e Jung se encontram num mesmo diapasão: ambos percebem no riso a afirmação de um princípio criador.
Quando um sujeito está em crise, quando o poder ordenador e racional do ego se descontrola, a tensão é demasiada e o ser se sente fragilizado - é preciso que se imponha outra força, em alternância. E o que surge como força capaz de propor outros sentidos à trágica situação, é o expediente da comédia e da magia que existem dentro de cada um.
O palhaço em particular, traz a visão carnavalesca, dionisíaca, ousada e grotesca do mundo, anteriormente citada. E o seu valor de renascimento, regenerador e de renovação positiva, “pois ao inferiorizar, rebaixar, aproxima da terra, favorece a comunhão com a parte inferior do corpo, conduz à comunhão com uma força regeneradora e criadora” (Bakhtin, apud Sampaio, 1992). Segundo Bakhtin, o riso renascentista está ligado ao novo, ao futuro, ao nascimento, a abrir caminhos. A figura do palhaço nos leva a enxergar o mundo de modo diferente, mais móvel, intenso e imaginativo.
fonte: Psicodrama do Palhaço
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20.5.10
19.5.10
O riso como via de acesso ao criativo transformador (texto sagrado do Delarismo) - parte 1
“O grau de liberdade que há em qualquer sociedade é diretamente proporcional ao riso que nela existe”
(Zero Mostel, in Humor Judaico)
...
O palhaço foi considerado por C. G. Jung como um representante do trickster, uma figura arquetípica do herói trapaceiro, ambíguo e contraditório, que zomba e transgride normas. O palhaço teria ligações estreitas com o trickster e seria, acima de tudo, uma exteriorização de algo íntimo, universal, primitivo e puro do indivíduo, que se encontra no riso e no exagero. Figura que pode ser amada, admirada ou temida por todos, que assume a dor, a ternura e o ridículo, integrando estes opostos.
Fazendo uma breve retrospectiva histórica do “palhaço”, encontramos já na Idade Média as figuras do bobo da corte ou bufão sábio. A trupe dos saltimbancos surgiu nas festividades da Idade Média e Renascimento. Nesta época, a concepção do cômico opunha-se à cultura oficial, ao tom sério, feudal e religioso da época. Encontramos esta figura cômica também como o “coringa” dos baralhos e como o “louco”, na carta 22 do Tarô. Somente se tornou realmente a figura do “palhaço” na Renascença italiana com a Commedia dell’ arte ( com a dupla “Branco e Augusto”). Passou a frequentar os palcos das festas populares, representando uma “concepção carnavalesca do mundo, uma segunda vida do povo”, assim como o lado jocoso, grotesco e alegre, recusando o poder instituído e afirmando a vida (Bakhtin, apud Sampaio, 1992, p.40). Surge, assim, uma visão do homem e das relações humanas alternante, necessária e revigoradora. Mas, este poder regenerador positivo do palhaço vai decrescendo após o século 17, mantendo-se atenuado em algumas formas do cômico sobreviventes, ligadas ao folclore, ao circo e à feira.
O trickster é considerado por Jung uma imagem arquetípica do inconsciente coletivo, que se insurge para brincar com a lei. É uma imagem eterna, arquetípica. Um herói mítico que é solitário, mas que se efetiva na relação com o outro, embora se volte sempre para si. O trickster é a imagem arquetípica do brincalhão com impulsos infantis, de natureza ambígua (animal e humana, sublime e grotesca). É o infantil no adulto, o infrator de normas.
(...)
Investigando o espírito cômico, observamos que ele é dialético, costuma dizer “não” a um “sim” aceito, ou dizer “sim” a um “não“ aceito e conservado culturalmente. Tem a capacidade de criar a súbita inversão, na qual a familiaridade do mundo comum é posta em questão, para que possamos ver a surpresa e experimentar o espanto que o familiar tende a esconder. A piada, por exemplo, depende muito de uma espontânea e súbita inversão do comum, da conserva cultural, da ordem das coisas geralmente aceitas. Por isto, há um certo atrativo inevitável na brincadeira.
Segundo Richard Underwood (apud Campbel, 2001, p. 166), “é cômico ver a súbita inversão da certeza ou familiaridade em incerteza ou surpresa”. Ou até pode ser trágico, indicando uma íntima ligação dialética entre tragédia e comédia. Como diz um velho cancioneiro popular, “o que dá pra rir dá pra chorar, questão só de peso e medida”.
J. L. Moreno (1889-1974), criador do Psicodrama, tinha plena consciência da força da brincadeira, da alegria e do jogo no trabalho terapêutico. Afirmou que devolveu a alegria à Psiquiatria e buscou no jogo, dramático ou não, o clima lúdico e o riso como condições para promover um estado espontâneo-criador, que ele considerava condição fundamental à saúde mental. Diremos que Moreno desenvolveu um método que visava também despertar o espírito cômico, com seu caráter transformador e transgressor, para que o sujeito com ele pudesse rir do seu drama, ver além da sua tragédia, além do seu modus operandi submerso e submetido às conservas culturais, a atitudes e padrões estereotipados.
Moreno deu, assim, credibilidade e valor à brincadeira como via de acesso ao poder criativo, e em especial no seu poder de colocar em questão o familiar, o conservado, desmontando “certezas”, princípios ou objetivos fixos, cristalizados e não questionados. Vai buscar na atitude lúdica a sua força criativa, para desmontar, desorganizar ou destruir certezas absolutas, pesquisando suas origens, numa perspectiva também genealógica.
(...)
Destacamos também a perspectiva dionisíaca presente do Psicodrama e na figura do palhaço. Dioniso, deus mitológico grego, é um deus do povo, da natureza, do vinho, da liberação pelo êxtase, das emoções, da promoção da vida, da não repressão, da expressão corporal, da dança, do teatro, do sexo e da alegria. Em seu lado sombrio, é o deus da tragédia e da loucura. Mas, é este deus que promove uma via de acesso ao mundo interior, a união das dualidades, do princípio masculino com o feminino, da luz e da sombra, do divino e humano, do alegre e triste, do bom e mau.
Na mitologia e na tragédia grega, é Dioniso quem aponta para a condição humana, que nos vem ensinar o mesmo que os poetas sempre transmitiram, que a vida é um jogo de pares de opostos, são parte de uma unidade permanente. Segundo Albor Reñones (2002, p. 148), “por trás de cada herói e cada sofrimento, ali estaria o deus Dioniso, apontando seu bastão para a nossa cara e dizendo: dance”. Para combater os excessos e a falácia da seriedade, aponta para a dança, para a permissão da alegria e da embriaguês, pois o mundo dá voltas e nada permanece, devendo a cada um de nós entendê-lo como passagem. Este autor (Ibidem, p. 156) nos aponta: “ante a insolubilidade da dor, temos a possibilidade de uma ação solidária, quando não amorosa”. Diríamos que nos resta a poesia, que está presente na alegria.
Segundo López-Pedraza (2002, p.44-45), “Dioniso permite uma perspectiva arquetípica para se relacionar e para diferenciar emoções, como uma via de acesso ao mundo interior”. Segundo Alvarenga (2000, p.143) Dioniso “prega a interação eu-outro de forma simétrica, restituindo a dinâmica do coração”. Dioniso é entendido com representante do arquétipo canalizador da agressividade, da força ou da corporalidade, transformando-a em manifestações criativas. Ao contrário de Apolo (deus do sol, da consciência, da ordem e do pensamento, defensor do patriarcado), Dioniso defende o feminino, é o deus lunar, do inconsciente, da intuição e do sentimento. Representa a dinâmica da alteridade, das relações simétricas, pós-patriarcal (Sousa, apud Alvarenga, 2007).
Parte 2
fonte: Psicodrama do Palhaço
(Zero Mostel, in Humor Judaico)
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O palhaço foi considerado por C. G. Jung como um representante do trickster, uma figura arquetípica do herói trapaceiro, ambíguo e contraditório, que zomba e transgride normas. O palhaço teria ligações estreitas com o trickster e seria, acima de tudo, uma exteriorização de algo íntimo, universal, primitivo e puro do indivíduo, que se encontra no riso e no exagero. Figura que pode ser amada, admirada ou temida por todos, que assume a dor, a ternura e o ridículo, integrando estes opostos.
Fazendo uma breve retrospectiva histórica do “palhaço”, encontramos já na Idade Média as figuras do bobo da corte ou bufão sábio. A trupe dos saltimbancos surgiu nas festividades da Idade Média e Renascimento. Nesta época, a concepção do cômico opunha-se à cultura oficial, ao tom sério, feudal e religioso da época. Encontramos esta figura cômica também como o “coringa” dos baralhos e como o “louco”, na carta 22 do Tarô. Somente se tornou realmente a figura do “palhaço” na Renascença italiana com a Commedia dell’ arte ( com a dupla “Branco e Augusto”). Passou a frequentar os palcos das festas populares, representando uma “concepção carnavalesca do mundo, uma segunda vida do povo”, assim como o lado jocoso, grotesco e alegre, recusando o poder instituído e afirmando a vida (Bakhtin, apud Sampaio, 1992, p.40). Surge, assim, uma visão do homem e das relações humanas alternante, necessária e revigoradora. Mas, este poder regenerador positivo do palhaço vai decrescendo após o século 17, mantendo-se atenuado em algumas formas do cômico sobreviventes, ligadas ao folclore, ao circo e à feira.
O trickster é considerado por Jung uma imagem arquetípica do inconsciente coletivo, que se insurge para brincar com a lei. É uma imagem eterna, arquetípica. Um herói mítico que é solitário, mas que se efetiva na relação com o outro, embora se volte sempre para si. O trickster é a imagem arquetípica do brincalhão com impulsos infantis, de natureza ambígua (animal e humana, sublime e grotesca). É o infantil no adulto, o infrator de normas.
(...)
Investigando o espírito cômico, observamos que ele é dialético, costuma dizer “não” a um “sim” aceito, ou dizer “sim” a um “não“ aceito e conservado culturalmente. Tem a capacidade de criar a súbita inversão, na qual a familiaridade do mundo comum é posta em questão, para que possamos ver a surpresa e experimentar o espanto que o familiar tende a esconder. A piada, por exemplo, depende muito de uma espontânea e súbita inversão do comum, da conserva cultural, da ordem das coisas geralmente aceitas. Por isto, há um certo atrativo inevitável na brincadeira.
Segundo Richard Underwood (apud Campbel, 2001, p. 166), “é cômico ver a súbita inversão da certeza ou familiaridade em incerteza ou surpresa”. Ou até pode ser trágico, indicando uma íntima ligação dialética entre tragédia e comédia. Como diz um velho cancioneiro popular, “o que dá pra rir dá pra chorar, questão só de peso e medida”.
J. L. Moreno (1889-1974), criador do Psicodrama, tinha plena consciência da força da brincadeira, da alegria e do jogo no trabalho terapêutico. Afirmou que devolveu a alegria à Psiquiatria e buscou no jogo, dramático ou não, o clima lúdico e o riso como condições para promover um estado espontâneo-criador, que ele considerava condição fundamental à saúde mental. Diremos que Moreno desenvolveu um método que visava também despertar o espírito cômico, com seu caráter transformador e transgressor, para que o sujeito com ele pudesse rir do seu drama, ver além da sua tragédia, além do seu modus operandi submerso e submetido às conservas culturais, a atitudes e padrões estereotipados.
Moreno deu, assim, credibilidade e valor à brincadeira como via de acesso ao poder criativo, e em especial no seu poder de colocar em questão o familiar, o conservado, desmontando “certezas”, princípios ou objetivos fixos, cristalizados e não questionados. Vai buscar na atitude lúdica a sua força criativa, para desmontar, desorganizar ou destruir certezas absolutas, pesquisando suas origens, numa perspectiva também genealógica.
(...)
Destacamos também a perspectiva dionisíaca presente do Psicodrama e na figura do palhaço. Dioniso, deus mitológico grego, é um deus do povo, da natureza, do vinho, da liberação pelo êxtase, das emoções, da promoção da vida, da não repressão, da expressão corporal, da dança, do teatro, do sexo e da alegria. Em seu lado sombrio, é o deus da tragédia e da loucura. Mas, é este deus que promove uma via de acesso ao mundo interior, a união das dualidades, do princípio masculino com o feminino, da luz e da sombra, do divino e humano, do alegre e triste, do bom e mau.
Na mitologia e na tragédia grega, é Dioniso quem aponta para a condição humana, que nos vem ensinar o mesmo que os poetas sempre transmitiram, que a vida é um jogo de pares de opostos, são parte de uma unidade permanente. Segundo Albor Reñones (2002, p. 148), “por trás de cada herói e cada sofrimento, ali estaria o deus Dioniso, apontando seu bastão para a nossa cara e dizendo: dance”. Para combater os excessos e a falácia da seriedade, aponta para a dança, para a permissão da alegria e da embriaguês, pois o mundo dá voltas e nada permanece, devendo a cada um de nós entendê-lo como passagem. Este autor (Ibidem, p. 156) nos aponta: “ante a insolubilidade da dor, temos a possibilidade de uma ação solidária, quando não amorosa”. Diríamos que nos resta a poesia, que está presente na alegria.
Segundo López-Pedraza (2002, p.44-45), “Dioniso permite uma perspectiva arquetípica para se relacionar e para diferenciar emoções, como uma via de acesso ao mundo interior”. Segundo Alvarenga (2000, p.143) Dioniso “prega a interação eu-outro de forma simétrica, restituindo a dinâmica do coração”. Dioniso é entendido com representante do arquétipo canalizador da agressividade, da força ou da corporalidade, transformando-a em manifestações criativas. Ao contrário de Apolo (deus do sol, da consciência, da ordem e do pensamento, defensor do patriarcado), Dioniso defende o feminino, é o deus lunar, do inconsciente, da intuição e do sentimento. Representa a dinâmica da alteridade, das relações simétricas, pós-patriarcal (Sousa, apud Alvarenga, 2007).
Parte 2
fonte: Psicodrama do Palhaço
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15.5.10
O velho tarado da Mercedes 78
por Pedro Ivo Resende
Seu Moreira comprou uma Mercedes 78. Adaptou a buzina com o tema do Star Wars para ver se fazia sucesso entre as colegiais. Ele tinha uma fixação magnética no que chamava de "garotinhas com cheiro de chiclete Trident". Por isso parava o carro de vez em quando na saída do colégio Pedro II.
- Ei, doçura, vem cá. Te dou um picolé de carne.
As garotas gritavam e se escondiam atrás das amendoeiras, com medo. Ele não ligava. Despia a camisa, a calça e ficava de cueca e meia preta, tomando sol em cima do capô do carro. E era nisso que se resumia o seu expediente de velho tarado. Até a vez em que uma mulher finalmente entrou no carro do Seu Moreira. Era a Tia Lucinda, que se orgulhava de ainda menstruar aos 68 anos de idade ("Aqui minha calcinha, ó. Cheia de sangue"). Ela perguntou:
- Seu Moreira, você tem algo contra próteses?
- Próteses?
- É, membros mecânicos.
- Tenho sim.
- Problema seu. Vamos pra Goiás. Quero começar vida nova ao seu lado.
Nisso, uma colegial chega e pergunta:
- E aí, Seu Moreira, o picolé ainda está de pé?
Tia Lucinda se adiantou:
- Psiu, o picolé já tem dona. Sai daqui, sua franguinha!
A menina fugiu com medo e se escondeu atrás de uma amendoeira. Seu Moreira abaixou a cabeça e chorou durante duas horas. Depois ligou a Mercedes e foi pra Goiás. Combinou de rachar a gasolina com a Tia Lucinda.
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Seu Moreira e Tia Lucinda, pioneiros Pipenses, apóiam Madame Lili
Seu Moreira comprou uma Mercedes 78. Adaptou a buzina com o tema do Star Wars para ver se fazia sucesso entre as colegiais. Ele tinha uma fixação magnética no que chamava de "garotinhas com cheiro de chiclete Trident". Por isso parava o carro de vez em quando na saída do colégio Pedro II.
- Ei, doçura, vem cá. Te dou um picolé de carne.
As garotas gritavam e se escondiam atrás das amendoeiras, com medo. Ele não ligava. Despia a camisa, a calça e ficava de cueca e meia preta, tomando sol em cima do capô do carro. E era nisso que se resumia o seu expediente de velho tarado. Até a vez em que uma mulher finalmente entrou no carro do Seu Moreira. Era a Tia Lucinda, que se orgulhava de ainda menstruar aos 68 anos de idade ("Aqui minha calcinha, ó. Cheia de sangue"). Ela perguntou:
- Seu Moreira, você tem algo contra próteses?
- Próteses?
- É, membros mecânicos.
- Tenho sim.
- Problema seu. Vamos pra Goiás. Quero começar vida nova ao seu lado.
Nisso, uma colegial chega e pergunta:
- E aí, Seu Moreira, o picolé ainda está de pé?
Tia Lucinda se adiantou:
- Psiu, o picolé já tem dona. Sai daqui, sua franguinha!
A menina fugiu com medo e se escondeu atrás de uma amendoeira. Seu Moreira abaixou a cabeça e chorou durante duas horas. Depois ligou a Mercedes e foi pra Goiás. Combinou de rachar a gasolina com a Tia Lucinda.
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Seu Moreira e Tia Lucinda, pioneiros Pipenses, apóiam Madame Lili
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